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Populismo - definição, por Luís Fernando Veríssimo.

 

Triste, triste

Luís Fernando Veríssimo.

Na Inglaterra pós-plebiscito estão pensando em como desfazer o malfeito pelo populismo irracional sem, ao mesmo tempo, desmoralizar a democracia

 

Racismo, xenofobia, intolerância, burrice — só tem nome feio na lista de razões dos ingleses para abandonarem a União Europeia. “Populismo” só não entra na lista de bobagens porque populismo é uma palavra danada. A definição mais aceita de “populista” é aquilo que é feito para ser popular, apesar de não ser certo. Outra versão, mais condenável, de populismo é demagogia, ou o populismo como ciência política. Mas o diabo é que populismo também é uma forma inocente, mas direta, de democracia — o poder do povo pelo povo para o povo mesmo que o povo não saiba o que está fazendo. Na Inglaterra pós-plebiscito estão pensando em como desfazer o malfeito pelo populismo irracional sem, ao mesmo tempo, desmoralizar a democracia. Como disse aquela personagem do Oscar Wilde, escandalizada com o que os nativos tinham feito com catequizadores ingleses na China, era no que dava levarem o cristianismo longe demais.

Se a União Europeia foi uma das melhores invenções da humanidade depois da escada rolante e do pudim de laranja, é triste ver a Inglaterra liderando o que pode muito bem ser o começo do fim da comunidade. A velha Inglaterra de Cromwell e os primeiros suspiros republicanos, do parlamentarismo espalhado pelo mundo junto com as canhoneiras, da Revolução Industrial e científica, dos poetas, de Shakespeare, dos Beatles, meu Deus, da Kate Winslet! — dando um passo atrás e recolhendo-se ao seu isolamento. E pior, pelo medo de estrangeiros, logo ela, que levou o terror do imperialismo branco a todos os cantos da Terra.

 

Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,triste-triste,10000060006.