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Platão, um sofista enrustido!

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Lendo Allan Bloom colhi:

“Enquanto não conseguirmos levar Aristófanes a sério e Platão comicamente, não conseguiremos compreender nenhum deles. Apenas a nossa pedanteria arrogante nos leva a ignorar as incontáveis alusões de Platão a Aristófanes. Para nós, acadêmicos, não podem, pura e simplesmente, ser importantes. O professor Platão só pode falar com os seus colegas professores. A minha resposta é que temos de olhar para onde Platão nos diz para olharmos e não para onde julgamos que devemos olhar.”, em “Aristófanes e Sócrates: uma resposta a Hall” (BLOOM, ALLAN. Gigantes e Anões, Ensaios, 1960-1999. Publicações Europa-América LDA, 1990, pp. 178/193.).

Eliano, por sua vez, afirma:

 

“Platão, filho de Ariston, dedicou-se primeiramente à poesia e compôs versos heróicos. Em seguida ele os queimou, como fazendo pouco caso deles, depois que, comparando-os com os de Homero, sentira quanto os seus eram inferiores...” (Histórias diversas de Eliano, Martins Fontes, São Paulo: 2009, p, 73).

Fracassado como poeta, passou a maldizer a poesia!

Já tinha eu levantado algumas suspeitas sobre Platão, que são, basicamente, as seguintes:

Primeira: acusa os Sofistas de “cobrarem por seus ensinamentos”, e que “não ensinava a verdade”!

Segunda: Sócrates usava todos os métodos dos Sofistas, era tido como Sofista, mas Platão nega tudo isso.

Vejam o seguinte: Os Sofistas, ao que sabe, eram homem pobres e estrangeiros, especialmente em Atenas. Sócrates não trabalhava e também era pobre.

Diversamente de Sócrates, que tinha alunos ricos (o próprio Platão, Crítias, tio de Platão, e Alcibíades, dentre outros), dos quais recebia presentes, os  Sofistas não dispunham de tais “mecenas”.

Ou presente é diferente de cobrança?

Como não cobrar se se precisa comer, por exemplo?

Todos os professores modernos são Sofistas! O que, aliás, não é nenhum demérito!

Passados dois mil e quinhentos anos, “ensinar a verdade” parece que ainda não foi possível, pois tudo continua sem solução, todas as questões está em aberto.

As teses do Sofista Górgias permanecem irrespondíveis. São elas:

(i) “Nada existe”. (ii) “Se algo existisse não seria perceptível” (iii)  “Admitindo-se que fosse perceptível, não seria comunicável”.

Apenas terceira tese: comunica-se com palavras e palavras não são coisas, não têm cheiro, paladar, cor.

Portanto, a acusação de Platão não faz o mínimo sentido, embora as pessoas, geralmente os religiosos e de má-fé, continuem a divulgá-las.

A dialética, tão usada por Sócrates, não era dele, e se deve aos sofistas seu aperfeiçoamento com defesa da existência de “dois discursos” ou “duplos discursos” para todas as coisas e para tudo, afinal.

Aristófanes, o sagaz comediante não pode ter se enganado tanto!

Péricles, o endeusado comandante grego, “pai da democracia”, quando precisou de alguém para fazer as leis de uma colônia grega (Túrio) na Itália (Magna Grécia), não chamou Sócrates para fazê-lo, mas o Sofista Protágoras. Por quê?

Tucídides, também festejado como “maior historiador”, em sua obra “História da Guerra do Peloponeso”, não dedica uma única linha, sequer cita, a figura de Sócrates! Por que o faria? Ora, alega-se que ele participou de batalhas na referida guerra e de julgamento importante.

Estas duas falhas (Péricles e Tucídides) devem ser “meras falhas” ou “falhas imperdoáveis” a desmerecer os dois?

Pode-se dizer que ocorre com Platão e seu Sócrates algo parecido com a charada brasileira que diz: “O que é que tem orelha de porco e não é porco? Pé de porco e não é porco? Nariz de porco e não é porco? Costela de por e não é porco? Língua de porco e não é porco?”. Ou seja, tem tudo de porco e não é porco, sendo a resposta: a feijoada!

Se, como diz Whitehead, “a filosofia ocidental consiste numa extensa nota de pé de página à obra de Platão”, quem compulsar o conjunto dessa obra verá, dentre os títulos, os seguintes: “Protágoras”, “Górgias” “Sofistas” e no conteúdo das demais os Sofistas e seus temas são sempre o tema principal. Isso nos leva a afirmar quer: “a obra de Platão consiste numa extensa nota de pé de página à obra dos Sofistas”!

Outro dito pode explicar isso. Diz ele: “não se atira pedras em árvore que não dá fruto”, mas o melhor seria: “quem desdenha quer comprar”.

Platão é tão contraditório, ou a interpretação que os religiosos fanáticos lhes dão que, chega a beirar o ridículo! Dois exemplos resumem esta aparente infundada afirmativa. Vejam:

Num livro da meia idade (Crátilo, 403 e), Platão afirma: que um deus sábio e benfeitor dos homens (Hades) é um “perfeito sofista”!

Já num livro da velhice (As leis, 716 c), reafirma: “Aos nossos olhos a divindade será 'a medida de todas as coisas' no mais alto grau”!

E agora, fanáticos platônicos?

Tenho a impressão que Platão não passava mesmo de um “Sofista enrustido” e com vergonha de sair do armário!

 

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