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O que é a beleza?

O que é a beleza?

 

Nos últimos dias venho pensando, ou tentando pensar, sobre o que é o belo!

Vejam as seguintes fotos:

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Nelas está retratada a porta de uma de um comércio de um chaveiro situado na Rua Augusta, trata-se de um gaúcho cujo nome não sei, pois é conhecido por Gaúcho!

Início deste ano ele viajou e deixou toda pintada a porta de ferro de cor amarela, além de um aviso colado a ela anunciando o dia de sua volta.

Numa manhã, quando passava pela frente da lojinha vi a bela pintura do cachorro cantando o seu “la, la, la”, de autoria, pelo que se pode ler, do “JAUM”, a quem somente conheço pela obra aposta na porta do Gaúcho.

Tirei fotos dos meus filhos (Osório di Maraã e Antonia Angela) junto ao grafite.

Eis que o proprietário volta e, no dia seguinte, a porta está novamente toda amarelinha!

Espantado, resolvi abordar o chaveiro e perguntar-lhe, discretamente, sobre a razão da mudança, sem falar, obviamente, de estética. Ele me disse que repintou “para manter a cor tradicional e tirar aquilo”!

Fiquei impressionado e admirado com tamanha tradicionalidade, que só podia mesmo vir de um gaúcho, já que eles mantêm firmemente os seus CTGs (Centro de Tradições Gaúcha), espalhados por todo o Brasil.

Deixei o comércio e, quando caminhava, me questionava: como isso foi possível? Para onde foi tanta beleza? E quem nunca a viu? Mas o Gaúcho nem pagou pela obra! Qual o critério para gostar-se de uma obra de arte?

Lembrei que, é regra, pagarmos para entrarmos em um museu, por exemplo, onde está exposta uma única pintura, muitas vezes, como é o caso de onde está pintada a “Santa Ceia” em Milão.

Para ver a obra de Da Vinci tem-se que agendar a visita previamente!

As vezes deve-se esperar longas horas em intermináveis filas para se ter o prazer de “apenas olhar” uma obra de arte!

Pagamos, muitas vezes caro – passagens, hospedagem, alimentação e ingresso –, para apenas ver uma pintura ou uma escultura e sair do local sem nada!

Sem nada!?

É ao pensar sobre esse “nada” que tenho concluído, inicialmente, que ele é concreto, material, já que não saímos mais o mesmo que entramos!

Numa conversa futura, além do prazer interior, podemos dizer da beleza do quadro “As meninas”, de Velázquez, que está no museu do Prado em Madri e, também, podemos compreender melhor, depois de vê-lo, o estudo que Foucault fez sobre ele e que consta do seu livro “As palavras e as coisas”!

Quem ver a “Pietá” e “Moisés” de Michelangelo, em Roma, bem como o “Davi”, em Florença, jamais será o mesmo ser o humano que era antes de admirar tamanhas belezas e perfeições produzidas por outro homem! Os músculos e veias esculpidos em mármore, em tempos de instrumentos ainda tão rudimentares, eleva o artista à condição de um deus!

Parêntese: você sabe o motivo de o quadro de Velázquez, que era espanhol, chamar-se “As meninas” e não “Las niñas”?

Eu gostaria de saber.

Prosseguindo: existem pessoas que passam suas vidas estudando uma única obra de arte ou lutando por sua preservação, outras simplesmente as apagam ou as quebram, até com tiros de canhões! Por que ou de onde vem tanta diferença entre dois seres humanos?

As obras apagadas ou quebradas vão para onde? Será que vão ou ficam registradas para sempre na memória de quem as contemplou? Certamente que ficam, embora de maneira desbotada e sem o impacto presencial que elas causam, mas, o pior, sem poder serem vistas pelas gerações futuras, que passam a conhecê-las por descrições, sempre imperfeitas ou muito aquem da beleza física delas, por mais esforçado e talentoso que seja o escritor.

Que bom seria podermos contemplar, ainda hoje, as 7 maravilhas do mundo!

Quem pode, financeiramente falando, paga valor elevadíssimo para ter uma obra de arte em sua casa, a qual é admirada pelo adquirente e poucos outros privilegiados que frequentam o ambiente, outros recebem obras gratuitamente e as jogam fora, quebrando, apagando ou abandonando num sótão onde serão devoradas por cupins!

Qual o critério para se gostar de uma obra de arte?

No sistema capitalista, no qual vivermos, nem o valor monetário da obra parece influir no gostar, gostar econômico, mas gostar, de qualquer modo.

A educação familiar também, parece, não influi nesse gostar, pois entre pais e irmãos que não gostam de arte surge um de “gosto refinado” para ela!

O mistério da beleza acompanhará o homem em seu caminhar rumo as trevas que um dia banharão seus olhos, porém, no último raio de luz que passar por visão, talvez, ele ainda veja aquilo que um dia conheceu e achou mais belo, numa concretude que passou a acompanhá-lo desde a primeira mirada e ele nunca mais foi capaz de esquecê-la.

 

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