Nós, em Maraã, somos plurais!
Somos duplos!
Somos mais!
Se a cidade de Itu se gaba de lá tudo ser grande, Maraã pode orgulhar-se de ser o dobro!
Abaixo estão alguns exemplos.
Os fotografados são os amigos Valdivino Caldeira e “Néri” (Sebastião Paulo de Souza da Silva) que, como observam não me deixam mentir!
Duvidam?
Podem ir lá e conferir!
Abraços,
Osório
POEMEMOS
I - Apresentação do Mestre Mendigo
Rei é como sou mais conhecido,
embora de um rei não traga
nem a pressa nem a capa.
Eu poderia igualmente ser chamado
chafariz ou mendigo
sem que nada no mundo se alterasse.
Palavras não imitam nem se colam às coisas
que somente por acaso designam.
Mas, se me coubesse a escolha
da relação entre os nomes e as coisas,
eu mandava, por exemplo, que a chuva
fosse chamada felicidade.
Aposto que vestida com uma roupa mais bonita
dava de escorrer menos aborrecida...
Ou então, se para a melancolia disséssemos riso,
quem sabe com um sorriso
sorrido de face a face
toda a tristeza nela se apagasse?
Se rei fosse de fato o meu chamado,
ser rei, mesmo dos tolos ou dos afonsos,
tampouco é mister para um qualquer.
No entanto, para ser franco,
a honraria não me agrada,
porque no fundo não cuido
se entre tantos vou como o príncipe ou o vagabundo.
Contudo, se me batizassem de repuxo,
não estariam de todo enganados:
pois metido no meio da praça,
jorrando os meus discursos,
sou um repuxo mas que joga,
em lugar das águas, sabe deus que palavras...
E se mendigo não é tudo,
é ao menos parte de quem sou,
já que teto nenhum me dá coberta,
e o conjunto dos muros que me cercam
é igual à soma da beira
de todos caminhos.
Rei ou palhaço são nomes comuns.
Referem-se a classes, não a indivíduos.
Talvez prefira pensar-me assim:
inespecífico, plural.
Num mundo tão cheio de coisas
nomes próprios e proles extensas não são praticáveis.
Nestas cidades de cimento e vidro
somos tão areia
que maré baixa maré cheia
ninguém mais põe reparo
no canto dos naufragados
ou no silêncio das sereias.
Alguém à margem é somente
alguém como toda a gente,
mas que não se deixou virar coisa num mundo de coisas,
coisas antes eram entes suficientes
como a gente imagina ser ainda
mas das quais nos tornamos instrumentos.
E o caminho por que prossigo
é meu viajante camarada.
Trago o seu gosto de lodo macerado
e o mesmo cheiro de terra molhada.
E como o dele o meu destino
é todo encruzilhadas.
Este que segue, a meu lado, farejando a manhã,
como se procurasse motivo para coçar-se, é Diógenes, o cão.
Assim o batizei, não só por irrisão, mas por ser ele
mais que todos um cão, não somente por injúria
ou força de expressão, de modo que o nome lhe cabe
pelo direito inato dos que vão pela vida passeando.
Além dele me socorrem uma mochila e uma soleira,
e essa é toda a parte que tenho neste mundo.
Mas o galho que do chão apanho
e que às vezes trago
à mão como um cajado
me acrescenta de todos os pássaros.
Autor: Christiano Valois, em “O convite de uma ilhar”.
e,
“Rapidinhas”
I
Sou um escritor de papel...
Que foi dobrado e redobrado
Por um anjo triste num dia de chuva.
II
Sim, seu Zé,
Escrever é só um pretexto
Para eu continuar remando
O barco da vida.
III
Escrever é um ótimo antidepressivo.
Claro, como todos os remédios,
Também tem o seu efeito colateral.
IV
Meu coração
É um cão velho abandonado,
Que manca sem rumo.
Que nem late mais...
V
O amor é assim mesmo,
Aninha, esquisito:
Soca a cara e depois afaga.
VII
Somos tão ingênuos, Chico:
Enricamos aqueles
Que nos trazem a fome.
Autor: André D’Soares.
Recado do autor: “São do meu livro ‘Poesias que escrevi com fome’ que será publicado em maio. São as poesias pequenas que eu resolvi juntá-las e por no final do livro”.
Digo eu: economizemos que, até, maio, talvez já tenhamos juntado o suficiente! Rs. Ansioso.