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Poesia: deleite-se ou delete-me (27.09.13).

Semelhantes,

 

GEDC2028(1)

 

Um dos muitos caminhos que me impôs o destino”.

 

 

Certa feita, conversando com uma amiga, contei-lhe a seguinte passagem da minha vida:

Por volta de 1977, ou 78, instalou-se em Maraã o termo Judiciário, mas, ainda continuava pertencendo a Comarca de Tefé para lá foi o escrivão Antonio Normando Lima. Era casado e, salvo engano, tinha três filhas. Papai pediu a ele um trabalho para mim, ele disse que podia empregar-me, mas não me remunerar, como para papai o importante era que eu me ocupasse e aprendesse algo, aceitamos. Trabalhei com ele durante algum tempo, juntamente com a Zila Benjamin de Queiroz, com quem, após a ida da esposa do tabelião da cidade, juntamente com as filhas, pois ele ia mudar-se, também, para outra comarca, Normando teve um namorico. Eu, para aperreá-la costumava preencher certidões de casamento com os nomes dos dois. Ao que eu saiba, ela nunca contou para ele.

Hoje, ainda no primeiro livro (número 1) de registros da Comarca de Maraã consta minha letra!

Foi um trabalho gratificante, pois conheci, trabalhando, o juiz de Direito que por primeiro judicou no Termo Judiciário de Maraã, Dr. Affimar Cabo Verde, de quem papai pediu, e ele concedeu, ordem para que eu, ainda menor, tirasse minhas carteiras do Trabalho e de Identidade. Na minha época, menores não podiam tirá-las. Foi ele, também, por ser maçom, como papai, conseguiu meu primeiro emprego.

Quando terminei o curso de Direito, convidei o Dr. Affimar para minha formatura. Ele não foi, mas me enviou um telegrama carinhoso, o qual guardo até hoje, pois além dos termos foi o primeiro que recebi na vida!

Tudo isso seria o início de uma tragédia que seria costurada anos depois.

- Como assim?

- No curso de Direito conheci uma pessoa chamada Marco Antonio Guerreiro Prado, que se tornou um dos meus melhores amigos na época. Fizemos varias festas na casa dele, seus pais, Isaac e Sônia, nos franqueavam tudo.

Na verdade, conheci o Marcos antes de conhecê-lo!

- Estranho!

- Estávamos numa aula do cursinho chamado Einstein e quando ouvi estava formada uma grande confusão lá na rua em frente ao prédio. Era uma briga que rapidamente foi separada. O meu colega de cursinho, Kemal, estava brigando com alguém. Fiquei chateado com o “alguém” que foi brigar com meu colega, mas não o vi ou soube quem era esse alguém.

Num dia, ao sairmos da faculdade, como fizemos numa época com certa frequência, fomos para um boteco. Ali a turma era formada por: Manoel Edmundo Mariano da Silva, Alberto José Aleixo, Everaldo Fernandez, Alísio Caldas, Marco Antonio e eu, lembrei do tempo de cursinho e o Marco lembrou da briga. O “alguém” era ele! Contei-lhe que conhecia o Kemal e que tinha raiva da pessoa que brigou com ele. Rimos muito. Marco contou-me que o motivo da briga era a irmã do Kemal, com quem ele namorava e o irmão não queria. Não acreditei! A moça era linda. Pense numa escandinava linda. Era ela! Loira, olhos azuis, alta, divina.

- Escandinava só podia ser assim, exceto divina!

- Tens razão! Recentemente, uma colega nossa de trabalho perguntou por uma outra dizendo o seguinte: cadê aquela que tinha tudo para ser mas não é? Fiquei espantado e quis saber o motivo daquela pergunta tão direta. E ela disse: era loira, alta, tem os olhos azuis, seus cabelos são sedosos, mas feia! Ou seja, tinha tudo para ser, mas não era.

Rimos muito.

- A irmã do Kemal tinha tudo e era bonita, realmente!

- Vou acreditar.

- Pois acredite, a mais pura verdade.

- Vou acreditar por ela não ser sua namorada. Seu julgamento talvez seja imparcial.

- Tá bom.

- Mas, continue.

- Ficamos quatro anos e meio na faculdade. Sempre juntos. O Marco tinha umas coisas engraçadas. Ao meio dia, numa época, ele tinha que nos abandonar antes do término da última aula para ir apanhar a marmita como dizia, para levar para sua casa. Tinha um carro corcel II amarelo que ficava estacionado na frente da faculdade. O prédio, na Praça dos Remédios, em Manaus, era de dois pavimentos e ficamos olhando lá de cima. Quando as pessoas se encostavam no carro, que era novo, para conversar, o Marco dizia: meu carro foi encerado com sebo de pênis! (para não usar um nome popular), vejam como as pessoas gostam de passar a bunda nele.

Rimos.

- Marcos sonhava em ser político. Foi presidente do Diretório Acadêmico. Ele quase não tinha bunda, era desbundado, como dizíamos. Para aumentar o volume das nádegas, ele usava uma carteira muito grande no bolso traseiro. Certo dia peguei na carteira quando ele passava por uma turma que estava ao pé da escada que leva ao andar superior. Marco virou e disse: filho da puta, me respeita. Eu tenho um nome a zelar. Lembra do meu projeto político? Pois já pensou se chega alguém aqui perguntando pelo Guerreirinho e alguém diz: ' aquele que tava pegando na bunda dele! É. Todos gargalhamos e ele se foi.

- Estava certo ele.

- Sim. No meu primeiro dia de aula, ainda de cabelo raspado pela aprovação no vestibular, fui fazer uma intervenção e disse: eu acho..., ele, que estava ao meu lado e me era totalmente desconhecido, pelo canto da boca, olhando para mim muito sério, resmungou: você não acha porra nenhuma. Perdi totalmente o fio da meada e me calei, puto da vida com o infeliz. Depois da aula ele apresentou-se e fez graça da sua brincadeira.

- Os amazonenses e suas brincadeiras sem graça!

- Certo que nos formamos. O Marco foi ser assessor de um desembargador. Pouco tempo depois os jornais estampam a sua morte trágica. Mataram-no com vários tiros de pistola. Fui ao velório. Olhei meu amigo pela última vez. Rosto e nariz afilado, lábio inferior ligeiramente mais carnudo que o superior, mas já sem cor, olhos cerrados e suas sobrancelhas marcantes...

- O que aconteceu?

- A que eu te disse das tramas do destino! Não se sabe ao certo como aconteceu. Existem duas versões. Primeira: ele, numa festa, conheceu algumas irmãs e as levou para um local ermo, tentou estuprá-las. Uma delas, com a pistola dele, fez os vários disparos contra ele. Segunda: tudo igual, mas ele não tentou estuprá-las, houve um desentendimento entre eles e uma delas atirou nele. Pelo crime, inicialmente, foi acusado um amigo dele, mas depois inocentado. Finalmente descobriu-se quem praticou o homicídio.

- Quem foi?

- Você não vai acredita!

- Pode contar que eu acredito!

- Vai mesmo?

- Deixa de ser chato e conta logo!

- Tá bom. Vou contar...

Tomei um gole de água. Olhei para o céu estrelado. E quando a amiga, prestes a esganar-me, fazia gestos com as mãos em direção ao meu pescoço continuei...

- As filhas do tabelião, O Normando!

- Não acredito!

- Eu também, até hoje, não quero acreditar!

- Como que você está no meio dessa história?

- As moiras teceram-na assim! Infelizmente.

- Caramba! E como você tem tratado as famílias?

- A do Normando, depois que ele saiu de Maraã e as meninas eram muito pequenas, nunca mais tive contato com ela. A do seu Isaac e D. Sônia se desestruturou, infelizmente. Seu Isaac não aceita até hoje o fato. O irmão do Marco Antonio, o Marco Aurélio, com a morte do irmão desencabeçou-se e morreu num acidente de carro. Seu Isaac, mais tarde, formou-se em Direito, também. Moninque, a única filha viva do casal também é formada em Direito, tem filhos. O Marco Antonio deixou um filho, que hoje já é um homem.

- Quanta tragédia!

- É a vida! Mas de tudo isso procuro guardar apenas as coisas boas de nossas convivências.

- Melhor assim.

- Brindemos à memória do meu colega e amigo, convidei-a e ela correspondeu.

E engoli a seco o vinho do copo.

 

Lembrete::

 

998848 454480094648975 599849560 n

 

Abraços,

 

Osório

 

P.S.: Poemas e Cia desacompanhada:

Eu queria estar sempre ao teu/

 

assim poderíamos construir muitos castelos de areia/

 

sem, contudo, querermos ser o rei e a rainha que moram lá dentro/

 

as paredes impõem limites, prendem, sufocam/

 

edificaríamos apenas para continuar o sonho de estarmos lado a lado/

 

e rirmos quando a onda destruísse a construção “desimponente”/

 

fortalecendo, com isso, os laços invisíveis que nos unem/

 

que nem o poderoso mar é capaz de marear!

 

 

Que falta a poesia faz

Por Fernanda Pompeu 

 

 

Mamãe, 80 anos, diz que aprendeu a ler poemas na escola primária. Ela sempre reitera que também sabia o nome dos autores. Meu sobrinho caçula, 20 anos, nem aprendeu o "batatinha quando nasce esparrama pelo chão". Faz muito tempo que a poesia foi banida da página do dia.

Ela virou assunto de aula de literatura, obrigação de vestibulandos. Quando alguém de repente diz versos, olhamos com certa estranheza. Outro dia na padoca Pioneira, na Vila Madalena, uma senhora puxou: "Ora direis ouvir estrelas! Certo. Perdeste o senso!" A mulher se foi e a jovem caixa comentou: "Pirou".

Talvez a moça do caixa tenha razão. Só os loucos ouvem estrelas. Pois gente normal ouve rádio, manifestante, cunhada, namorada, sogra, amigos. Gente normal, quando muito, vê estrelas. Como escutá-las se elas não têm boca?

Mas rondei com os versos na cabeça. A história de ouvir estrelas me acompanhou no supermercado, na fila do banco, no trânsito sempre ruim. Como uma poesia puxa a outra, lembrei de uma Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) que amo:

"Se de tudo fica um pouco, / mas por que não ficaria / um pouco de mim? no trem / que leva ao norte, no barco, / nos anúncios de jornal, / um pouco de mim em Londres, / um pouco de mim algures? / na consoante, / no poço?"

Então percebi o óbvio. Recordar versos nos torna mais sensíveis. A alma fica mais delicada. É como generosidade entrando pelas janelas dos mesquinhos cômodos do cotidiano. Este tão corrido, pragmático, duro até. Temos tantas coisas a fazer. Temos?

Às vezes me ocorre que poderíamos jogar metade de tudo na lata de lixo. Metade dos pares de sapato. Um terço das manias. Cinquenta por cento das prateleiras. Alguma parte do medo. A maior porção do tédio.

Na noite deste dia, abri a internet, digitei: Ora direis ouvir estrelas! Certo / Perdeste o senso! Encontrei os versos e seu autor Olavo Bilac (1865-1018). Ele também letrista do Hino à Bandeira: "Salve lindo pendão da esperança!"

Li no final do poema a resposta ao enigma. A trilha para se tornar uma pessoa capaz de escutar estrelas: "Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas."

 

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/que-falta-poesia-faz-110643719.html.

 

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