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Poesia: deleite-se ou delete-me (04.10.13).

Humulheres,

 

sobre acentuação


 

 

 

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O BURACO

 

O buraco existe. Negar é inútil. Somos carne, ossos, coração, mente (talvez alma) e, O buraco. Ele atinge a alma, ou o coração. O estomago é uma alternativa para isolar O Buraco. No estomago podemos tentar enchê-lo de comida, arroz e feijão se for menos abastado, guloseimas, como queijos, frutas secas, tartufos e delicias variadas ou outras delicias se estiverem ao alcance. Não é suficiente, recuo algum ocorreu, O buraco aumentou, a banha aumentou, a banha aumenta O buraco.

Claro, drogas. Maconha, cocaína, pilulas legais & ilegais, fungos, santo daime, o caralho a quatro.

Buracos famosos, adorados, cheios de buraquinhos querendo repetir as soluções declaradas “OK” por Astros vendidos, patrocinados e certos do que é dito a eles, soluciona O buraco.

O buraco retrai por minutos, para os sortudos horas. De repente volta fortalecido, escavação em progresso, poço profundo alimentado na veia. Empregos e cargos, salário e bônus, férias e décimo quarto, porcentagem dos lucros. Cavou mais. O buraco é mais em baixo. Vamos tentar alcançá-lo e forrar O buraco com os bônus & brindes, participações nos lucros, férias remuneradas.

O gosto de sucesso adocica O buraco, faz parecer que açúcar é um bom recheio para buracos doces na aparência.

Seu dinheiro compra carros, jantares, imóveis. Escadas estão além dos rendimentos. Mais fundo.

Ninguém desiste. Dentes novos para esconder a podridão dos seus ossos. Um empreendimento de sucesso, quarenta e oito unidades vendidas, Audi, Mercedes, Volvo. Parado no trânsito, com O buraco crescendo ao som do MP3, sugando os vidros blindados e OS bancos de couro tirados de um ser que foi vivo algum dia. Mergulhado em uma Jacuzzi, ofurô, piscina de lama, areia movediça. O buraco engolindo sua ridícula tentativa de purificação espúria e patética.

Espoliar, consumir ao infinito, matanças covardes, demonstrações de poder, de autoridade violenta e sem sentido, buraco inesgotável, insaciável. O poder, poder pode, poder manda, poder não tem limites, não aceita nãos. O buraco ignora, cresce sozinho, muito abaixo das pequenezas do imaginário poder consentido pelas mentes perdidas em buracos menores, de fácil manutenção, de incentivos mínimos. O buraco está lá, permeando a existência frágil dos seres moles, de carne e ossos esmigalháveis. Pedras, paus e palavras. Fortes e ameaçadores. Cúmplices do buraco. Operários eficientes, pás nas mãos, picaretas perfurando existências, aprofundando O buraco. Mulheres lindas e vendidas, homens fracos e sarados, sucessos profissionais a custa da alma e das entranhas. Mais buracos. Mais profundidades semi-preenchidas por p... e b... sem fundo e sentido. Momentos irrisórios de prazer e plenitude, volta O buraco, partidas de futebol. Novelas, reality shows, tabacos com mil substâncias cancerígenas. O Câncer vive do buraco. O Câncer é o outro nome do buraco. Vivas os psicólogos, os psiquiatras, as drogas recreativas e todas formas conscientes e artificiais de nos isolar do buraco. Brindes em vão, taças esvaziadas, buracos secos, seres encolhidos em um espaço exíguo. As mãos sem unhas, perdidas em poucos centímetros de esperança, muitos metros intransponíveis, sem escadas, sem cordas. No máximo um parquinho, um mafuá de diversões em volta do buraco. Abutres famintos na esperança de preencherem seus buracos com a podridão de outros podres, acumulados e curtidos nos barris de medo da humanidade. Barris, garrafas, copos, brindes, as pequenas amenidades, as amizades comemoradas em uma mesa, qualquer mesa, qualquer bar, saída consciente e covarde, esquecimento, que se foda O buraco, que se foda sua presença constante, morte, mesmo que seja momentânea, mesmo que seja amortecidamente diária. O aprendizado, o conhecimento, ciência & tecnologia, divertimentos, comédias, enganações possíveis e impossíveis. A terra insuficiente, esforçada e buscada incansavelmente. Meros instantes de alívio. Um pequeno desvio dos olhos e contemplamos O buraco. Inevitabilidade, destino óbvio e inaceitável, futuro certo, passado frágil e mantido em bits, youtubes e porqueiras insensatas de um progresso sem futuro. Continuaremos tentando manter nossa minúscula e breve existência como se fossemos filhos de seres supremos, poderosos, imortais, de Deuses, de Um Deus. Breve e maravilhosa vida, um minuto, uma hora, um dia, anos incontáveis, o tempo de uma vida até seu fim, o milagre da vida não pode ser medido pelo tempo. O tempo é presente, o passado é memória e o futuro conjecturas sem fim ou acerto. A vida é brevemente eterna. Um dia, uma hora, um minuto. Para uma mosca isso é completamente sem sentido. Sentido é o tempo que imaginamos. Imaginação é a realidade, realidade hoje é virtual, realidade virtual sempre foi a realidade do seu cérebro, conjunto de miolos inescrutáveis. Tentamos e tentaremos durante a eternidade da nossa finitude preservar e destruir lembranças. Memórias exclusivas de cada vida, não importa quantos momentos traduzidos em tempo ela dure. Vida. Vem de um buraco, passa seu tempo contabilizado pela massa encefálica tentando sair do buraco, acaba inevitavelmente em um buraco.

Buraco – quanto mais se tira maior fica.

Autor: Beto (Roberto Algodoal Zabrockis Junior)

 

Abraços,

 

Osório

 

P.S.: Poemas e Cia desacompanhada:

 

"Inocente até que prove o orgasmo", (autor: anônimo).

 

e,

 

Dança imaginária

 

Ao ouvir tua voz suave sussurrando em meu ouvido,

ouço acordes de violinos.

A melodia é leve e suave,

como os dedos e o arco que deslizam sobre as cordas.

Tuas cordas também emitem o mais refinado acorde,

Que embala minhalma e me faz dançar neste salão imaginário,

amplo e lustroso a refletir nossos paços.

Preso em teus braços encontro a liberdade

Giramos por todo o salão,

como se volteássemos pelo mundo.

E a vida, doce e bela, não dura mais que um segundo,

Quando trêmulo, aceitas meu pedido estendendo a tua mão.

 

Manaus, 04.12.99, às 22:31 h.


 

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