Escritos de Amigos

Você está aqui: Home | Artigos | escritos de amigos

O que é o mito, por João Ribeiro Jr.

As almas dos insepultos não podiam atravessar o rio que rodeia o reino dos mortos; teria que vaguear eternamente e sem descans

 Zeus

O Mito como forma de pensamento

 

O mito é uma história perene, isto é, uma história dos acontecimentos que são eternos, porque se repetem; mas é uma história diversa da que conhecemos, pois ela se refere sempre a um tempo que não é irreversível, a uma temporalidade, que se elimina pela participação no sagrado, a um "tempo circular".

O mito não é uma forma de pensamento própria dos povos primitivos, das crianças e das pessoas de pouca cultura, senão que é uma categoria eterna do pensamento racional. [Osório diz: daí vem o arquétipo como “padrão lógico atemporal” do pensar]

O mito, portanto, é um fato vivo, autêntico, que acompanha os povos em todo o seu ciclo de vida. Uma vez aflorado não permanece em sua forma primitiva, mas varia, desenvolvendo-se, primeiro oralmente, e depois fixado na escrita.

Seguem os povos em suas migrações, propaga-se de mitologia a mitologia, de religião a religião, dilatando-se ou diminuindo por influência de outros cultos, ou aliando-se aos sobreviventes e esgotando ou haurindo o seu acervo tradicional. Finalmente, adapta-se ao meio para onde é transplantado, adquirindo feições locais, pois o mito é profundamente popular e nacional, encontrando, nas representações figuradas, matéria para a sua transformação.

Como se vê, abordar diretamente o problema do mito é uma tarefa difícil, já que, através da História da Cultura, ele se apresenta verdadeiramente com aspecto proteiforme, isto é, muda de forma com frequência, e é, ao mesmo tempo, global: ele engloba todos os elementos de uma atuação ou ação. [Osório diz: Proteu era um deus que tomava a forma que ele desejava].

O mito é uma totalidade que não se pode dividir sem destruir; é uma estrutura inatingível racionalmente. Daí qualquer análise racional do mito trazer sempre, em seu bojo, o risco de despojá-lo de sua unidade fundamental.

Na realidade, o mito tem pelo menos duas acepções: primeiro, o sentido natural, como explicação de fenômenos naturais ordinários ou extraordinários; [Osório diz: raios, chuvas, noite, dia eram deuses] o mito é então um pensamento científico primitivo [Osório diz: na falta de uma melhor explicação para os fenômenos que não compreendia, os homens os explicavam por intermédio do mito], por meio do qual o homem explica o mundo antropomorficamente [Osório diz: pelo antropomorfismo o homem atribui qualidades suas ou de animais aos deuses]; é o que faz a mitologia: os deuses são homens divinizados. [Osório diz: Evêmero, filósofo grego, é quem fez, ao que se tem registrado, a primeira afirmativa nesse sentido: homens importantes foram tornados/transformados em deuses por obra de outros homens].

 

Fonte: "Grécia mitológica", João Ribeiro Jr., Papirus, Campinas, 1984, p.18/19.

 

P.S:. na imagem, vemos o deus Zeus (a diferença dos nomes é uma letra!) atirando raios, já que, então, o homem não tinha outra explicação para como os raios se formavam (imagem capturada de postagem de Diann Betz).