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Estado e corrupção – o homem tem jeito?

 

"Politico quando candidato

Promete que dá aumento

E o povo vê que de fato

Aumenta seu sofrimento".

 

 

Carolina Maria de Jesus*

 

Vivendo num mundo em que dinheiro é tudo, pois compra tudo, quem não quer ser rico?

 

As religiões que condenam a riqueza não distribuem as suas.

 

Os judeus, povo que ama a riqueza, tem entre os seus os mais ricos do mundo.

 

E quais as fórmulas para uma pessoa ficar rica?

 

Em primeiro lugar devemos reconhecer que são muito poucas!

 

Depois, deve-se saber que dinheiro nunca é muito e, além do mais, ele deve sempre crescer, se reproduzir, pois, caso contrário se acaba, pois até o vulgo sabe que “de onde apenas se tira e não se põe, se acaba”. As despesas e a inflação sempre corroem o capital.

 

Algumas das fórmulas para se ficar rico:

 

I – escravizar povos mais fracos na tecnologia de guerra, como fizeram os escravagistas França e Inglaterra, por exemplo.

 

II – saquear riquezas de povos inferiores em tecnologia de guerra, como fizeram Portugal e Espanha, por exemplo.

 

III – fomentar guerras entre os povos e entrar nela no final ao lado da parte vencedora, como fizeram os Estados Unidos, e por duas vezes, por exemplo.

 

IV – acertar na loteria, o que é muito difícil.

 

V – nascer rico, mais difícil ainda, pois são poucos os ricos e você não tem liberdade para escolher nascer um Rothschild.

 

VI – se apoderar das riquezas de um Estado, já que para ela toda sua população contribui e, assim, é sempre maior que uma riqueza individual e, pela ignorância, “não tem dono”, quando, na verdade, o dono são todos os seus contribuintes!

 

O Estado, portanto, é a vítima mais rica e fácil de ser capturada e seus bens desviados de suas finalidades públicas indo enriquecer aqueles que o saqueiam.

 

Como o Estado é o maior gerador, por ser concentrador de riquezas, bem como o seu principal administrador e aplicador, todos querem de seu comando apropriar-se: os pobres para se tornarem ricos e os ricos para ficarem cada vez mais ricos!

 

E quem defende o Estado da garra de seus captores?

 

Ninguém, para dizer a verdade nua e crua!

 

As brigas e condenações entre pessoas e grupos que estão no poder e aqueles que querem tomá-lo resume-se apenas nisso: a sede de poder!

 

Sede de poder que é absolutamente igual à sede de e por riquezas!

 

Ninguém quer comandar o Estado para fazer o bem, filantropia ao povo, dar-lhe educação e saúde, por exemplo, quer mesmo é administrar os robustos orçamentos em favor de seu próprio interesse ou de seus grupos! Só isso! Embora em discurso ninguém assuma, obviamente, esse objetivo, pois não são loucos e, por isso, são todos lobos em peles de cordeiros!

 

Todo o funcionamento da máquina estatal é voltada, no fundo e no raso, para o cometimento de crimes que atingem o patrimônio público, em especial a corrupção!

 

Os funcionários públicos de carreira, eternamente invejados por todos que não o são, mas que morrem de vontade de sê-los e não querem enfrentar os estudos e a igualdade de condições ofertadas pelo concurso público, até que tentam, pela segurança de seus salários, ser diferentes, mas a tentação é grande e a chefia maior ainda!

 

É que os funcionários públicos não são chefes de si mesmos nem do serviço público!

 

O serviço público federal, por exemplo, mas o mesmo ocorre nos governos estaduais e municipais, é chefiado pelo presidente da República e seus ministros (pelos governadores e seus secretários e pelos prefeitos e seus secretários), todos eles, regra geral, caciques políticos que ganharam ou perderam as eleições mas que apoiaram o chefe do poder executivo, embora sem nenhum vínculo com o serviço público de carreira, aliás, muitos deles são analfabetos funcionais, mas são as pessoas que irão chefiar e dizer o que o funcionário pode ou não pode fazer, deve ou não deve fazer!

 

E nesse deve ou não deve está, justamente, beneficiar seus correligionários e pessoas que financiaram suas campanhas, pois é impossível fazer campanha política sem ter quem a financie, e quem a financia financia hoje é para receber de volta amanhã, com juros e correção monetária e outros agrados que o enriqueçam!

 

Alguém de fora, mas com desejo de entrar, geralmente mal intencionado, costuma dizer: por que o funcionário não denuncia o desvio de que tem conhecimento?

 

Os funcionários, além de sábios, pois passaram nos concursos públicos difíceis e concorridíssimos, não são loucos!

 

Vão denunciar para quem?

 

Para o governador o malfeito do secretário? Sim, dirá o incauto.

 

Mas não foi o governador quem colocou seu homem de confiança naquele cargo? (Mário Covas nomeou Robson Marinho para seu Chefe da Casa Civil. Marinho, diz a imprensa, está milionário e ainda exerce cargo sem concurso público junto ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo)

 

Em quem o governador vai acreditar, no funcionário subalterno ou no seu homem de confiança?

 

Dirá alguém: o governador nomeará uma comissão para apurar o caso!

 

As comissões, quem sabe sabe, são de duas espécies: de apuração e de arquivamento, e para casos como o que ora tratamos somente funcionam as de arquivamento, aquelas que têm por fim não apurar nada e provar a inocência na conduta do acusado. Com a simples nomeação de seus integrantes, quem sabe sabe, já sabe o resultado.

 

Temos a imprensa livre a denunciar! Dirão outros.

 

Livre de quem? É a pergunta.

 

De quem nela faz publicidade e assim a mantém?

 

Temos um exemplo, no Brasil, de um ex-presidente da República que nomeou um genro seu para um cargo na Petrobras, mas, sobre isso, a imprensa, ao que recordo, não disse e nem diz nada!

 

O ex-rei da Espanha foi pego em flagrante delito por causa de quem? Seu genro!

 

Será que o Tarso tem Genro?

 

Não temos saída, então?

 

A saída, acredito, é estreita, mas não deixa de ser uma saída!

 

Em todos os países existiu, existe e sempre existirá corrupção, pois esta é a própria natureza em movimento (e a natureza é movimento)!

 

Hesíodo, escritor grego do século VII ou VI antes da era atual já falava sobre “juízes comedores de presentes”, ou seja, corruptos, em seu Os trabalhos e os dias!

 

E existem registros um pouco mais antigos que os hesiódicos!

 

Portanto, corrupção e natureza humana parecem caminhar lado a lado.

 

O que fizeram alguns países que diminuíram seu índice de prática de corrupção?

 

Isso mesmo, apenas diminuíram!

 

Outro dia ouvi a seguinte historinha que bem imagino ilustrar o assunto:

 

Nos países de corrupção controlada (não existe país sem corrupção), o político recebe 100 para fazer uma obra. Ele desvia 10 e aplica 90. No Brasil, o político desvia 90 e aplica 10”!

 

Portanto, a saída é essa: controlar, para que esse controle diminua a corrupção.

 

E quais são os instrumentos de controle: as leis e os aplicadores quase independentes dessas leis (não existe aplicador 100% independente, para isso bastar ver o sistema de nomeação dos julgadores das cortes máximas de “justiça”, no Brasil e no mundo, é ele, também, político: o seja, o nomeado julga o nomeante!), além de cobrança fiscalizatória pelos movimentos sociais, que devem lutar por transparência, pelos candidatos aos cargos nos quais eles acusam seus adversários de estarem praticando atos ilícitos e pela imprensa, sempre a tentar impor pessoas do seu agrado e seus financiadores, digo patrocinadores, melhor anunciantes.

 

É do meio desse caos que, organizado, se pode tirar algo de salutar para que se atinja o nível de corrupção daqueles países que alguns, por ignorância, e outros por má-fé, dizem que nele tudo é honestidade.

 

Mas não esqueça também que, quando VOCÊ sonega (por que industriais e comerciantes detestam expedir notas fiscais?), também está cometendo crime, tão OU MAIS grave quanto o crime de corrupção.

 

*Quarto de despejo, "Livraria Francisco Alves" / Editora Paulo de Azevedo LTDA, São Paulo: 6ª edição (1960), p. 129.

 

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