Livros

Você está aqui: Home | Livros
In Livro

Pitagoriando em Sampa - Capítulo IV

 

Pitagoriando em Sampa

 

CAPÍTULOIV

 

- Onde vamos? Perguntei-lhe.

 

- Meus pais vão ao cinema. Minha irmã saiu com o namorado. Podemos subir.

- com muita fome. Vamos a uma pizzaria?

- Vamos, sim.

Voltamos para a rua Cardoso de Almeida e entramos na primeira pizzaria que encontramos.

- Não gosto muito daqui, mas como não vou comer, disse Lélia.

- Tudo bem. Vou para o sacrifício.

Sentamos numa mesa ao fundo, distante do formo, que ficava na parede oposta. Pedi à sorridente atendente duas fatias de pizza, calabresa e mussarela, e um guaraná Antártica.

- Você está fugindo de mim? Perguntou Lélia.

- Que é isso!? Ando sem tempo mesmo.

- Garanto que para a tal de Luíza B. você sempre tem tempo.

- Vai começar?

- Não, terminei. O que que você anda fazendo de tão importante para não ter tempo?

Contei-lhe sobre o projeto. Ela achou legal e disse que queria participar. Imaginando encontros e confusões futuras, agradeci a boa vontade mas recusei a oferta. Disse-lhe, no entanto, que ela estava convidada para assistir as palestras.

- Tudo bem! que não sou útil, desdenhou.

- É claro que você é útil. Terá sua participação e se precisar de mais alguém sei a quem convidar.

Aproximei meu rosto do de Lélia e trocamos um longo beijo com sabor de calabresa. Um calafrio percorreu meu corpo. Ela percebeu e disse:

- Vamos para casa?

- Vamos.

Paguei a conta e nos retiramos. Ao chegarmos ao apartamento, os pais de Lélia tinham saído. Fomos recebidos pela Liza, a poodle da casa.

Ao fechar a porta, Lélia me pegou pela mão e me puxou em direção ao seu quarto. Fui com muito gosto, mas preocupado. Olhava para os lados para ver se tinha alguém em casa. Não vi ninguém. Quando ela fechou a porta nos abraçamos e fomos caindo na cama. Tirei sua blusa. Seus seios eram alvos como o leite e rígidos, como é natural em moças de sua idade, os mamilos eram de um róseo tingido de sangue. Estava desabotoando minha calça quando ela perguntou:

- Você trouxe camisinhas?

- Não. Você está no período fértil?

- Não. Mas isso não vem ao caso. E as outras consequências?

- Deixa comigo.

- Sei com quem você anda saindo...

- Me cuido.

- Nota-se. Sem camisinha não dá. Tem uma drogaria Raia aqui na própria Cardoso de Almeida, desça e compre.

Tentei convencê-la a desistir da ideia da camisinha, mas ela se mostrou irredutível. Disse-me, e fui eu que me convenci, que o homem heterossexual está menos sujeito a contrair doenças sexualmente transmissíveis que as mulheres e os homossexuais pelo fato dos dois últimos ficarem portando dentro de seus corpos o sêmen contaminando por muito mais tempo.

Aceitei a explicação, mas pedi a ela que fizéssemos amor, com a promessa de que não chegaria ao final. Ela concordou com a promessa e a afirmação que fiz de que, assim, teria mais disposição para descer e ir até a drogaria e comprar preservativos. Não me despi, apenas baixei a calça o suficiente para não incomodar meus testículos. Lélia, como estava de saia, levantou-a após tirar sua calcinha. Começamos e, por mais de duas vezes, quando ia chegando ao final, parei os movimentos por alguns minutos para continuar em seguida. Na última vez, se ela não me empurra bruscamente, pude constatar que não cumpriria minha promessa. Desci e fui na drogaria que ficava nas proximidades, comprei um pacotinho de juntex, contendo três unidades. Usamos apenas uma unidade, pois a irmã de Lélia, Marcela, voltou antes do esperado. Ela guardou as duas outras camisinhas para uma outra oportunidade. Embora, dias depois, viesse eu a saber que não teria nem seria preciso uma nova oportunidade!

Saí do quarto desconfiado, embora tivesse pedido à Lélia que se certificasse de que a Marcela estava realmente em seu próprio quarto, temia em encontrá-la.

Depois de sair do prédio, em poucos minutos o busão me deixava na Avenida Paulista novamente. Apanhei outro ônibus, agora na Rua Augusta, ao lado do Conjunto Nacional, o qual foi me deixar na Rua Marques de Paranaguá. Desci e corri para casa, pois começava a garoar.

Com a pressa, não dei bola para as provocações futebolísticas do seu João.

O ap. estava calmo! Ninguém na sala, nem na cozinha. Fui para o meu quarto. A porta estava entreaberta e pude ver que o Thadeu ainda estava ao computador. Ao pegar na maçaneta, ele assustou-se.

- com medo de quê, cara?

- Sou homem de ter medo de alguma coisa? Estava distraído.

- Nem sabia que você era homem.

- Que que tu achas que é isso aqui? Disse segurando em seu pênis.

- Não sei porque não me interessa, mas muitos nasceram com isso e até cortaram.

- Sai fora, mano.

- E aí, algum progresso?

- Estou à procura dos dois últimos nomes da lista. Os demais está tudo em cima.

- Belê, mano. Vou tomar água e volto.

- É o tempo para localizar os dois últimos.

- Quer beber algo?

- H2O vai bem.

Fui à cozinha e dei um tempo por lá, esperando que o Thadeu terminasse sua pesquisa. Depois de comer uma fruta, enchi um copo com água e voltei para o quarto. O Thadeu estava de se espreguiçando. Entreguei-lhe o copo com água e ele disse:

- um bagaço. As costas e meus ombros estão quebrados. Quer fazer uma massagem?

- Sai fora. Também estou cansado, mas de outra coisa.

- sabendo. Foi legal lá?

- Ótimo, mas sem detalhes.

- Você vai pular a melhor parte?

- Detalhes é coisa de mulherzinha.

- Não querendo fuxico, mas detalhes.

- Esqueça, então. Tudo pronto?

- Claro, cara, você falando com seu melhor funcionário.

- Óbvio, tem você.

- Mesmo que tivesse milhões. Quando enviaremos as correspondências?

- Vamos ler a cartinha que redigi?

- Vamos lá.

Após imprimir o texto em duas vias, passei uma ao Thadeu e pedi-lhe que lesse em voz alta. Ao final da leitura perguntei-lhe:

- Gostou?

- Sim. Mas tenho sugestões. Posso dizer quais são?

- É evidente.

- Em primeiro lugar, no segundo parágrafo, a palavra éinteirarmos, falta um erre.

- Belê. O que mais?

- No terceiro parágrafo, pode-se acrescentar:podendo Vossa Senhoria, inclusive, sugerir nomes que considere possam abrilhantar o evento.

- Ótimo. Aceito.

- Por fim, qual a data da realização do encontro? Afinal, os convidados precisam se programar.

- A data saberemos após as respostas dos arquiteto e decorador. Vamos correr atrás disso amanhã. Parabéns e obrigado pelassugestas.

- Não foi nada, afinal, tenho que produzir e, quem sabe, pedir um aumento salarial.

- Nem pensar! Vamos descer e comer umsanduba?

- Cara, cheião, comi demais! Além de tudo quebrado,cansadãomesmo, precisando de banho e cama.

- Vai fundo. tens toalha. Queres dormir aqui ou no quarto de hóspedes?

- Aqui mesmo.

- legal, eu arrumo.

Como tantas outras vezes, Thadeu foi tomar banho e eu fui buscar um colchão no quarto de hóspedes, sobre o qual ele iria dormir. Conversamos um pouco, ele voltou a querer saber sobre os tais detalhes do meu encontro. Neguei novamente. Quanto percebi ele estava dormindo, o cansaço venceu a curiosidade. Coloquei o relógio para despertar e, poucos minutos após deitar, dormi um sono tranquilo.

Fomos, como de costume, acordados pelo relógio. Fizemos a higiene pessoal e fomos para o café.

- Pai, alguma resposta do pessoal da reforma do sobrado? Perguntei.

- Ficaram de ligar hoje, respondeu-me.

- Este é o convite que faremos aos nossos convidados, disse-lhe entregando uma cópia que tínhamos imprimido à noite.

Papai leu e releu, pude perceber, e perguntou:

- Quem redigiu?

- Eu e o Thadeu, claro.

- Claro por quê? Poderiam ter pedido ajuda a alguém.

- Não somos capazes, é isso que o senhor quer dizer? Perguntou o Thadeu sorrindo.

- Nada disso. Eu sei que vocês são capazes, mais é que está muito bom, parece coisa de profissional, e, ao que eu saiba, vocês ainda são apenas dois moleques. Disse e, ao final, deu uma gargalhada, como fazia quando estava feliz.

- aprovado? Perguntei.

- Eu não faria melhor, mas quem tem que aprovar são vocês, eu sou apenas um palpiteiro, me vejam assim.

Após o café, fomos para o quarto fazer as lições da escola, que ficaram prontas em tempo recorde, pois estávamos ansiosos para voltarmos ao nosso desafio.

- Terminei, falamos juntos.

- Vamos ao que interessa, então, disse eu.

- O que interessa mesmo é a lição, ponderou o Thadeu.

- Desculpe, é verdade, reconheci.

Fechamos os livros e fomos para o computador.

- Thadeu, você vai pesquisar algumas empresas que trabalhem com a produção de banners, para fazermos alguma divulgação do evento. Eu vou com a ajuda da lista telefônica OESP, localizar os endereços de algumas pessoas que, além de professores, escritores e estudiosos, são difusores de cultura.

- O trabalho que vou fazer não atinge o mesmo objetivo do que você vai fazer?

- Não, os banners são para que a população, de um modo geral, saiba do evento, mas, como o espaço de que dispomos é reduzido, não poderemos receber a todos que se interessarem. Para que as conversas cheguem a todos, é que precisamos dos difusores de opinião.

- Belê! Quem estás pensando em convidar?

- Em princípio: Miguel Spinelli, professor da Universidade Federal de Santa Maria-RS, Roberto Romano, professor da UNICAMP; Jacy de Souza Mendonça, Márcio Pugliesi, Cláudio De Cicco e Tercio Sampaio Ferraz Jr, todos professores da PUC-SP, e, este último, também da USP; Miguel Reale, José Reinaldo de Lima Lopes, Fábio Konder Comparato, Eduardo C. B. Bittar e Dráuzio Varella, estes da USP, sendo último escritor.

- homem até agora, isso é misoginia ou estás repetindo os gregos literalmente? Pois, entre eles não consta que mulheres integrassem as escolas e academias, até porque o Aristóteles tinha sobre as mulheres uma opinião absurda.

- Calma, irmão, desde quando conheces filosofia e, além do mais, eu tinha terminado?

- Não, realmente não tinhas terminado. E sobre o que eu conheço de filosofia, te digo que conheço muitas outras coisas que você nem faz ideia.

- Imagino. Mas não vamos nos dispersar sobre o que sabes que eu não sei, depois falamos disso. Mas, que falaste, que mulheres sugeres?

- Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, as autoras do livroFilosofando, dentre outras.

- Nossa, você sabe o nome completo delas?

- Por que não deveria?

- Eu, por exemplo, não consigo.

- Quer te dar bem na vida? Me segue.

- Gracinha. Quem mais?

- As sempre lembradas Marilena Chauí e Angélica Sátiro e Ana Miriam Wuensch, autoras da obra Pensandomelhor. Lembra alguma também.

- Também lembrava dessas três. Vamos a quem ainda lembro e depois batemos novamente a lista.

- Melhor você escrever sozinho, tenho muitas outras coisas para fazer.

Disse e virou-se para o teclado. Acrescentei à minha lista:

Daniel Piza, do Estadão; Gilberto Dimenstein da Folha de São Paulo e Chico de Oliveira, professor da USP.

Meu celular tocou e no visor estava o nome do meu pai.

- Filho, falei com o R. Ohtake, ele me disse que pode dar a obra por concluída em um mês, após o início dos trabalhos. O Sig pediu o mesmo prazo. Trabalhe, então, com três meses. O Ruy vai te ligar para vocês acertarem o preço da mão-de-obra e o início das obras.

- O que que eu digo para ele?

- Você sabe. Beijo.

Disse isso e desligou. Fiquei sem saber o que fazer, pois jamais tratei de tal assunto com alguém.

- Que que teu pai disse? Perguntou o Thadeu ao perceber a meu nervosismo, fruto de minha insegurança.

- Cara, ele quer que eu fale sobre preço de mão-de-obra com o pessoal. Sei o que é isso.

- Ouça primeiro, se souber responder responda, se não, peça um tempo e responda depois.

- É isso aí.

A manhã foi corridíssima, a Raitza batia à porta chamando-nos para o almoço. Após o almoço nos arrumamos e fomos para a escola. Na subida da ladeira da rua Frei Caneca, o telefone do Thadeu tocou; era a mãe dele perguntando se estava tudo bem e se ele ia voltar para a casa deles após a aula. Ele disse que não, pois tinha que terminar um trabalho que estávamos fazendo, mas que ligaria para ela à noite, explicando, inclusive, do que se tratava.

A aula foi normal, mas minha cabeça estava longe da sala de aula. Na verdade, estava pensando no que ia dizer ao arquiteto.

Na hora da saída a Lélia tentou puxar conversa, mas como percebeu que eu estava nas nuvens e com muita pressa não insistiu após um rápido beijo. Perguntou, no entanto:

- E ontem a noite?

- O quê?

- Poxa, você não lembra de nada? Indagou decepcionada.

- Claro que lembro, adorei, mas agora tenho que ir. Passei a costa da mão em seu rosto triste e me afastei.

Descemos a rua apressadamente, Thadeu pareceu compartilhar a mesma ansiedade que me consumia. Durante o percurso, ao ligar o celular, percebi que tinha uma mensagem de texto. Era do arquiteto R. Ohtake, deixando o número do seu telefone e pedindo que eu retornasse a ligação. Deixei para fazer isso em casa.

Após nos desvencilharmos de nossas mochilas, Thadeu ligou o computador e eu fui ligar para o Ruy.

- Alô, é o Dr. R. Ohtake? Indaguei.

- Sim. Quem fala?

- É o Juarez, recebi o seu recado para ligar...

- Olá, Juarez, me interrompeu Ruy, tudo bem? Como anda o seu projeto?

- Eu estou bem, e onossoprojeto também, disse enfatizando o nosso.

- Que bom. Vamos ao que interessa. Terminei de fazer os levantamentos de custos da reforma, na parte que me cabe, e quero te repassar o valor.

- E quanto é?

- Ficou em 22.000,00 dinheiros.

- Preciso falar com o papai, disse-lhe tomado pelo espanto, por considerar a cifra tão vultosa.

- Se, como você disse, é onossoprojeto, não adianta falar com ele não. Estou fazendo preço de custo, ou seja, sem nenhum lucro, até nem estou cobrando nada pelo meu trabalho, afinal, nonossoprojeto pretendo incluir meus dois filhos, em especial porque a minha filha fez curso de filosofia. Além do mais, seu pai me disse que quem vai pagar tudo é você, pois dispõe de dinheiro.

- Pois é, mas não sei se posso passar um cheque desse valor.

- Não precisa ser desse valor. Na verdade, você pode adiantar a metade e a outra metade você paga quando a obra for entregue.

- Papai disse que para a conclusão levará uns trinta dias após o início, é isso mesmo?

- É o que estou prevendo, embora possa entregar antes, mas para que você possa bem se programar, é melhor trabalhar com o prazo de trinta dias.

- Tudo bem, então. Como faço para lhe entregar o cheque?

- Quer dizer que podemos começar imediatamente?

- Sim, creio que sim.

- Iremos começar amanhã mesmo, passe no meu escritório até o final da semana. Anote o endereço.

Após anotar, perguntei:

- Mas eles não precisam do dinheiro para começar os trabalhos?

- Eu adiantarei do meu e depois você me repõe.

- Valeu, então, obrigado.

- Obrigado a você, garoto, mas antes de vir ligue; pode ser que eu não esteja aqui e para que você não uma viagem perdida.

- Ótimo. Então até sexta, no máximo.

- Até, um abraço, Juarez.

Desliguei o telefone e disse ao Thadeu:

- Cara, é muita grana, o arquiteto pediu 22 paus para fazer a tal reforma lá.

- 22?

- 22 mil, mano, se liga.

- Nossa!

- Nem vou ligar pro velho, certamente eles se combinaram.

- Como assim?

- Ele sabia que eu tinha a grana.

- Ah.

- Como anda tua pesquisa?

- Legal, estou terminando, vou pesquisar dez empresas e contatei sete.

- Ótimo.

- Melhor fazermos um cronograma de nossos prazos. Como hoje são 25, a partir de amanhã, 26, teremos um mês para a primeira parte das obras, depois teremos mais trinta dias.

- Então, como estamos em junho, teremos até 26 de agosto para a conclusão das obras. Isso se contratares logo no dia seguinte os trabalhos do Sig.

- Vou falar com ele para começar no dia seguinte.

- Vai fundo.

- Vamos, né?

Cada um de nós voltou aos nossos afazeres.

Não percebemos, mais uma vez, a passagem do tempo. Saímos do nosso torpor com alguém batendo à porta. Era o papai.

- Olá rapazes, tudo bem? Posso entrar?

- Claro, respondi.

Papai entrou e sentou-se na minha cama.

- Quais são as novidades?

Contei-lhe sobre a conversa com Ruy.

- É isso mesmo, se ele disse que não está ganhando nada, certamente não está. Ele também está curioso com o projeto.

- Posso, então, pagá-lo?

- Isso é com você.

- É que estou preocupado.

- Por quê?

- É muita grana pai. Será que vai sobrar para o resto?

- É o preço justo, acredito. Depois, vou ficar com o sobrado reformado e assim posso vendê-lo melhor. De qualquer forma, eu teria que fazer essa reforma. Quanto ao fato de que não vai sobrar dinheiro para o restante, vamos esperar, não vamos sofrer por antecipação.

- Tudo bem, então, respondi.

- E sobre os convidados? Perguntou papai.

- Como não tínhamos data para quando poderíamos recebê-los, ainda não fizemos nenhum contato preliminar. Agora que temos, estou pensando em meados de setembro. O que o senhor acha?

- Está ótimo, afinal, em setembro começa a primavera.

Após consultar o calendário, disse:

- Será, então, do dia 16 a 22 de setembro. Tudo bem?

- Por mim tudo, e quanto a você Thadeu? Inquiriu papai.

- Pô, tio, o senhor sabe que eu ainda não faço nada mesmo, portanto, em qualquer data estarei à disposição.

- Como não faz nada? O Juarez me disse que você dando a maior força. Que é o melhor funcionário do empreendimento.

Rimos do gracejo do velho.

Contamos sobre os difusores de conhecimento que estávamos desejando convidar, papai aquiesceu e disse:

- Tente também o pessoal da televisão.

- Mas pai, a TV não tem dado espaço para discutir esse assunto que é o nosso tema.

- na hora de começar, além do mais, na TV Cultura tenho assistido ótimos bate-papos de filósofos.

- Isso por que o senhor fica acordado até tarde da noite. Os programas não passam por volta da meia-noite?

- Nisso você tem razão, mas são iniciativas como a de vocês que irão mudar isso. pensou, em horário nobre, a Globo, a Record, a Band, a Rede TV e o SBT disputando audiência com filosofia, como algumas delas fazem hoje quando exploram a miséria humana?

- Acorda, tio, muitos não querem que ninguém pense neste país.

- Não seja pessimista, Thadeu, os gregos pensaram contra tudo e contra todos. Trabalho como o que vocês estão fazendo agora irá ajudar a mudar esse panorama. Educação não é como os outros bens da vida, você pode reparti-la milhões de vezes e sempre terá o mesmo tanto, ou até mais. Ela é diferente de uma barra de queijo ou do dinheiro, por exemplo, embora com ela você possa adquirir queijo e dinheiro. Nos países considerados de primeiro mundo, ou países ditos desenvolvidos, a vida da população é melhor de que aquela da população dos países ditos do terceiro mundo, ou subdesenvolvidos, justamente porque sua população estudou mais, adquirindo, assim, maior esclarecimento a respeito de seus direitos e obrigações, além de desenvolverem suas tecnologias.

- Desculpe, tio, concordo com o senhor e quero que isso ocorra aqui no Brasil também, tanto assim que estou aqui fazendo minha parte.

- Você não me deve desculpas não, Thadeu, somente digo isso porque é o que eu gostaria de dizer para todo o povo do Brasil e do mundo.

- Ouvindo vocês dois, concluí: eu pensava que o Thadeu estava aqui para receber salário e não para fazer sua parte. o senhor, fez um discurso digno de um político. Assim, não preciso mais pagar nada ao Thadeu e o senhor tem o meu voto.

Rimos novamente.

- Negativo, disse o Thadeu, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

- De minha parte, dispenso o seu honroso voto, pelo menos por enquanto.

- Quer dizer, então, que a hipótese do senhor vir a ser candidato não está descartada? Perguntou o Thadeu.

- Nunca sabemos do dia de amanhã, meus filhos. Agora tenho que ir, alguém tem que trabalhar nessa casa.

- Protesto, pois a mamãe trabalha, e muito, nós também, a despeito de estarmos felizes, estamos trabalhando muito. Não é Thadeu?

- Com certeza.

- Nos vemos no jantar, disse papai após nos beijar na testa, saindo do quarto.

Voltamos aos nossos afazeres e, quando percebemos, estava na hora de irmos para a mesa.

Após o jantar e uma ligeira conversa, fomos para o quarto e não tardamos a dormir, estávamos cansados o bastante para aguentarmos mais trabalhar.

A semana foi bastante produtiva. Falei com a Luíza B. pelo telefone poucas vezes e não cheguei a vê-la.

Aproveitamos o domingo ensolarado para irmos ao campeonato de skate no Parque do Ibirapuera.

Estiverampresente,aoquemerecordo,osbrasileirosSandroDias,oMineirinho,Bob Burnquist,Cristiano Mateus, Lincoln Ueda, Rodrigo Menezes, odinamarquês Rune Glifberg, o alemão Jurgen Horrwarth, o australiano Renton Millar, e os americanos Neal Hendrix e Sergie Ventura.

Sandro fez uma apresentação perfeita, com manobras arrojadas, numa de suas voltas, conseguiu um mctwistvarial, heelfliptoindy e um fliptoindyvarial.

Cristiano Mateus, depois de uns anos de treino, conseguiu realizarum 720°".

Lincoln Ueda, fantástico nos aéreos, não fez feio. O "Japonês Voador", como é conhecido, conseguiu o maior aéreo, com um vôo de 3,6 metros.

O americano Neal Hendrix, que havia treinado, segundo ele, durante toda a semana, tentou um halfcabheelflip, mas não conseguiu.

O australiano Renton Millar, fez excelentes manobras em heelflip. Já o americano Sergie Ventura, Backside 180.

Na prova de melhor manobra Sandro Dias mandou um mctwist com judo air e frigidair e levou a melhor, ganhando mil dólares como prêmio.

- Vocês ficam falando os nomes dessas manobras, mas, para mim, são todas iguais, disse a Luíza B., que tinha se juntado a nós.

Tendo Thadeu respondido:

- Vou te falar algumas e dizer como são praticadas, assim você conseguirá perceber a diferença entre elas: Ouça:

 

O OLLIE: é o movimento básico para quase todas outras manobras do skate. O OLLIE é o ato de pular e fazer com que o skate "grude" em seus pés, portanto até para subir uma simples guia você vai precisar dar OLLIE. Como se faz, você poderia me perguntar, e eu lhe direi: coloque seu da frente no meio do shape e o de trás bem no tail. dobre sua perna da frente, coloque seu peso no tail com o de trás "bata" o shape no chão (isso que dará força para o pulo) e um pouco antes do shape encostar no chão pule. quando o skate descolar do chão ele estará com o nose (parte alta da tábua na frente do skate) mais alto que o tail (a parte de trás, menos acentuada), para isso deslize o dianteiro para frente assim equilibrando os lados e até deixar o skate paralelo ao chão. ao pousar tente deixar os pés em cima de cada truck (eixo) para distribuir o peso do corpo e flexione os joelhos para diminuir o impacto. É isso e... quando estiver dando OLLIE com segurança poderá tentar pular escadas e tentar outras manobras... cuidado, no entanto.

- fiquei cansada com a explicação. É o que é shape e tail?

- Shape é a madeira do skate, onde você pisa para manobrar, tail é a parte de trás. Mas ainda tem mais Luíza B. Vamos lá:

OLLIEFLIP

Para você conseguir fazer esta manobra é preciso primeiro que você saiba com precisão dar o OLLIE. O OLLIEFLIP é um OLLIE onde o skate um giro no ar antes de você cair em cima dele. Como é feito? Assim: coloque seu da frente no meio do shape e o de trás bem no tail, mas deixe o da frente um pouquinho mais para fora do shape. bata com o de trás fortemente no tail e ao mesmo tempo pise forte com o da frente no meio do shape na direção para fora do shape. espere o skate rodar por inteiro e tente parar o skate na posição certa e é cair em cima.

OLLIEFLIP360º

Essa manobra é "treta" de fazer pois é uma combinação de OLLIEFLIP com um VARIAL360º. Se faz assim: coloque o seu da frente no meio do shape, mas deixe um pouquinho mais para fora do shape e o de trás no tail também um pouquinho para fora do shape, que na parte contrária do dianteiro. um OLLIE arrastando o tail com o de trás, para trás de seu corpo e um "chute" no skate com seu dianteiro para baixo de "leve" e logo volte com seu para cima. espere o skate rodar 360º, tente parar o skate na posição certa e é cair em cima. Bem... parece fácil explicando mas tente para ver como é...

POPSHOVE-IT

É a mesma manobra do OLLIE, apenas virando o skate 180º. O corpo permanece no mesmo sentido.

FRONTSIDE180

É o OLLIE virando o skate 180º na direção do skatista. O corpo acompanha o skate.

BACKSIDE180

O OLLIE virando o skate 180º na direção oposta do skatista. O corpo acompanha o skate.

KICKFLIP

A manobra do OLLIE usando a ponta do e virando o skate no seu eixo longitudinal. No Brasil é chamado erroneamente de OllieFlip.

HEELFLIP

É um kickflip em que o skate é girado usando-se o calcanhar (heel).

HARDFLIP

É o OLLIEFLIP fazendo o skate girar 180º no sentido de trás (backside), enquanto o corpo gira no sentido da frente (frontside).

NOSEMANUALOUNOSEWHEELIE

É aquela manobra em que se anda equilibrando somente nas rodas dianteiras.

TAILMANUALOUTAILWHEELIE

É o inverso da manobra anterior, se anda equilibrando somente nas rodas traseiras.

NOSESLIDE

Escorregar com o bico do skate em superfícies como uma borda ou um cano.

NOLLIE

É o OLLIE feito a partir do bico do skate (nose) e não da rabeta.

50GRIND

Escorregar com o eixo traseiro do skate em superfície como uma borda ou um cano.

50/50GRIND

Nessa manobra se anda arrastando os eixos do skate em um obstáculo, com duas rodas laterais para dentro e duas para fora, quando se tem uma borda com plataforma. Em canos e trilhos, o skate no 50/50Grind fica com os eixos em contato com as suas superfícies.

FAKIE

É andar de costas.

CABALLERIAL

É o OLLIE360º vindo de costas (fakie).

HALF-CAB

É o OLLIE180º vindo de costas (fakie).

FRONTSIDEFLIP

Dar-se um OLLIE com giro longitudinal no sentido do skatista.

BACKSIDEFLIP180

É o OLLIE com giro longitudinal no sentido contrário ao skatista, ao mesmo tempo em que ambos (skatista e skate) giram 180º para trás.

FRONTSIDE180KICKFLIP

Nessa manobra tem-se o OLLIE com giro longitudinal no sentido do skatista ao mesmo tempo em que ambos (skatista e skate) giram 180º para frente.

360FLIP

É um Kickflip em que o skate vira 360º. No Brasil é chamado erroneamente de KickFlip.

BACKSIDEBLUNTSLIDE

Escorregar com a parte de trás do skate (tail) aproximando-se com as costas para o obstáculo. O skate deve ficar em posição vertical.

FRONTSIDEBLUNTSLIDE

Manobra igual a anterior, que agora aproximando-se com a frente virada para o obstáculo.

CROOKEDGRIND

Escorregar com o eixo do skate encaixado enviesado (crooked) numa superfície igual ou similar a uma borda ou a um cano.

NOSEGRIND

Escorregar com o eixo da frente do skate numa superfície igual ou similar a uma borda ou a um cano.

HALFCABHEELFLIP

Combinação de duas manobras. Um Half-Cab seguido de um Heelflip.

BACKSIDETAILSLIDE

Escorregar com a parte de trás do skate (tail), aproximando-se com as costas para o obstáculo. O skate deve ficar na posição horizontal.

FRONTSIDETAILSLIDE

A mesma manobra anterior, com a diferença de que o skatista se aproxima de frente para o obstáculo.

NOSESLIDESHOVE-ITOUT

Combinação de duas manobras. Um nose slide saindo de popshove-it.

BACKSIDELIPSLIDE

Entrando de OLLIE e encarando de costas o obstáculo, girando o skate 90º no sentido contrário do skatista (backside), pousar na superfície (lip) e escorregar (slide).

FRONTSIDELIPSLIDE

Entrando de OLLIE e encarando de frente o obstáculo, girando o skate 90º no sentido do skatista (frontside), pousar na superfície (lip) eescorregar (slide).

BACKSIDEROCK'NROLLSLIDE

Entrando de OLLIE e encarando de costas (backside), girando o skate 90º no sentido do skatista, pousar na superfície e escorregar (slide).

FRONTSIDEROCK'NROLLSLIDE

Entrando de OLLIE (frontside), girando o skate 90º no sentido contrário do skatista, pousar na superfície e escorregar (slide).

OLLIEIMPOSSIBLE

É o OLLIE fazendo o skate girar em torno do seu próprio eixo, usando o de trás.

VARIALKICKFLIP

É o OLLIE flip fazendo o skate girar 180º, com o corpo do skatista seguindo o sentido normal.

KICKFLIPBODYVARIAL

OLLIE flip fazendo o corpo girar 180º, com o skate seguindo o sentido normal.

BIGSPINKICKFLIP

OLLIEflip fazendo o skate girar 360º, enquanto o corpo do skatista segue o sentido normal.

HANDPLANT

O handplant é o estilo usado naquelas manobras que se faz com a mão na frente no meio das pernas.

TUCKKNEEINVERT

Handplant segurando com a mão na frente das pernas.

ANDRECHT

Handplant segurando com a mão no lado de trás do skate (inventado por Dave Andrecht).

EGGPLANT

Handplant invertido, com uma mão para frente segurando na borda e a outra para trás no skate.

BURNTWIST

Eggplant girando 360º (inventado por Bob Burnquist).

GRIND

Arrastar um eixo na borda da pista e/ou rampa.

VARIVARIALOUBACKSIDESHOVEITVARIALS

Suba como se fosse um backsideair. Chute o skate com seu que ficou para trás. Esta é parte do shoveit. Então segure como na manobra mute, e volte como numa manobra muteair.

FRONTSIDE

Criado por Tony Alva, é feito quando o skatista segura na bordado skate com a mão para trás e voa de frente para a parede.

BACKSIDE

Inventado por Tom Inoye, é justamente o oposto do de frontside. Nesse vôo, o skatista segura na borda do skate com a mão para frente e voa de costas para a parede.

LIENAIR

Um aereal de frontside, com a pegada de back, ou seja, o skatista segura na borda do skate com a mão para frente e voa de frente para a parede. Criação de Neil Blender.

- Cara, onde você aprendeu tudo isso? Perguntou Luíza B., admirada.

- Vendo e fazendo. Tem uma turma muito boa que fica no Vale do Anhangabaú todas as tardes de domingo. Os nomes, aprendi em leituras e no sítio http://www.skatefelix.hpg.ig.com.br/viagens/9/index_int_4.html, na net.

- Thadeu, agora fala para a Luíza B. alguns dos verbetes do dicionário do skate, incentivei.

Ele, num tom professoral, encheu o peito e começou:

- Temos, querida aluna Luíza B., os seguintes verbetes:

Coping – borda das pistas que pode ser de concreto, cano de pvc ou de ferro.

Hangup – queda ocasionada quando truck engancha no coping.

Extensãoparte que se acrescenta a uma pista originalmente menor.

Cornercotovelo das pistas propício aos carvings.

Carvingscurvas.

Noseparte alta da tábua na frente do skate.

Spinepirâmides ou mesas com transições.

Taila parte de trás, menos acentuada.

Transiçõesângulos formados a partir do chão.

Banksconstrução, de um modo geral de concreto, no formato de conchas com a parte convexa para cima.

Quarter-pipequarto de tubo.

Shapemadeira do skate... a tábua onde você coloca os pés.

Truckeixos.

Down-hilldescer ladeira.

Slidesescorregar.

Streetrua.

Half-pipemeio tubo.

Wallridecorrer na parede.

Snakegrandepista de concreto no formato de uma serpente. As bordas, em geral, são arredondadas.

Rockslidedeslizar o shape do skate sobre qualquer superfície.

Bowlconstrução de concreto no formato de uma cápsula com a parte convexa para cima.

Flatplano.

Canyonburaco de entrada do bowl a ser utilizado como obstáculo.

- Precisava me dizer algumas coisas óbvias, como por exemplo, que street é rua? Seria eu tão analfa?

- Calma rebelde aluna, você sabe que algumas palavras, em algumas atividades, recebem significados diversos daqueles que têm normalmente. Não é?

- É verdade, professor, desculpe.

- Desta vez desculpo, mas que essa malcriação não mais se repita.

Rimos todos. E Thadeu falou baixinho:

- Aprendi isso na prática e no mesmo sítio na net.

- Vamos embora, então, que as estrelas se mandaram? Convidei, perguntando.

Como os meus dois companheiros concordaram, começamos a nossa volta para casa pedalando nossasmagrelas, oucamelos, como dizem dos brasilienses.

 

 

Você está aqui: Home | Livros