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Diálogos e sermões de Frei Eusébio do Amor Perfeito - Mafra Carbonieri.

Diálogos e sermões de Frei Eusébio do Amor Perfeito - Mafra Carbonieri.

 

Opinião de leitor, não de crítico!

Se crítico, opinião de “si para se”, com o compartilhamento com outros.

 

Gosto de poemas românticos, daqueles de cortar o pulso!

Em 19.07.14, fui, à noite, ao EITA Sarau, que fazia e comemorava 4 anos de existência no “Julinho's Bar”, na Mourato Coelho, em Pinheiros, aqui em Sampa.

Saí de lá já na madrugada de 20, com alguns livros da Editora Reformatório, dentre os quais o acima citado. A capa foi, obviamente, o que mais me chamou a atenção para que o adquirisse! O religioso, de olhar fixo e morto, de rosto com aparência idosa, mas, por incrível que pareça, bela e imponente, me impressionou ao primeiro olhar!

No dia 20, lá pelo final da tarde, apanhei a obra e iniciei sua leitura.

A “Carta ao Editor”, à Cervantes, já é uma saborosa introdução, uma preliminar excitante.

A transcrição de Bradford Williams, que eu não conhecia, sequer sei se ele existe ou é simplesmente um personagem de Mafra, é provocativa à reflexão. Leia-a:

Na história recente, ou antiga, alguém acredita em dinheiro sem pecado original?”.

Creio que Carbonieri “santificou”, ao questionar, o “por trás de toda grande fortuna existe sempre um grande crime”!

O autor, não somente pela idade, é de 1935, tem conhecimento profundo e sólido, embora quem faça tal afirmativa não tenha conhecimento algum! Esse conhecimento leva-o a construir sua poesia com graça e leveza. O riso está garantido, em especial pelo toque picante de “pornografia” no ambiente sacro!

Melhor, o autor consegue impor e expor uma “sensualidade quase pornográfica”, como se pode ler na página 69 no poema abaixo transcrito.

Aliás, até o número da página é sugestivo, percebi agora quando escrevo esta!

Percebe-se, com a fluência da leitura, que jorra como o Amazonas no Atlântico, que Mafra Carbonieri “é um homem de fé, ou conhecedor profundo das escrituras”, pois tem desenvoltura ao expô-la de maneira jocosa e cativante. O ora afirmado pode ser comprovado por quem lê o poema da página 71.

O fio condutor da obra de Mafra é, penso, o pudor despudorado, que levou-me a consumi-la de um único trago, cuja última gota, logo a deixadora de saudades, é a “Biblioteca” com suas obras e seus autores sempre casando primeiras com segundas intenções.

Resumindo, a obra de 78 páginas foi e pode ser consumida sem contra-indicações, ou melhor, deve ser consumida por ter indicações que impõem alegria e leveza à alma de quem tiver a oportunidade de lê-la, e todos se devem dar essa oportunidade. A minha oportunidade só não foi aproveitada de um único fôlego por meu filho Osório di Maraã, de 8 anos, como acaba de fazer agora, várias vezes ter reclamado, com justa razão, minha atenção, cujo lado negativo, se é que existe um, era ou foi a interrupção passageira e breve da leitura.

Para despertar sua curiosidade transcrevo 2 poemas, cuja seleção foi quase impossível, diante da vontade de transcrever todos, mas que seria 10leal não somente com o autor e o editor, porém, até com a Leandra, que, no entanto, é 100 igual de tanto ser Leal!

Vamos ao amostra grátis:

 

Prece

 

Senhor. Tende pena.

No colo de Ismênia

eu chorei aquapoema.

Tende pena. Tende pena.

O peito deste frade

ressuscitou Madalena.

 

Tende pena.

Nas ancas de Custódia

tatuei um pornopoema.

 

Misericórdia. Misericórdia

aos que a suplicam

no suor do leito.

 

Vosso servo e mui devoto.

Frei Eusébio do Amor Perfeito.

 

e,

 

 

Proposta

 

Se eu tiver que ir aos infernos,

seja nos invernos, meu e do tempo.

 

Estarei liberto da cruz, não do capuz.

 

Levarei o rosário e o cachecol.

Também o lençol e o Breviário.

A estola. O saquitel da esmola.

As sandálias. O diário.

O retrato de Isabel. Também o de Otália.

 

O urinol e a tina.

 

O escapulário. A batina.

 

O cibório. Um verso de Gregório.

 

O horário do trem

 

e a memória do sol.

 

e,

 

Revendo William Shakespeare

 

Que culpa eu tenho se culpa não sinto.

Que culpa eu sinto se culpa não tenho.

 

De que me acusam se eu não me acuso.

Por que me recusam se me abstenho.

 

Que culpa eu sofro? Que culpa me abala?

Que culpa me afoga? Que culpa me cala?

 

Que culpa eu sofro? Que culpa me abala?

Que culpa me afoga? Que culpa me cala?

 

Que culpa me prende se o medo me teme.

Que medo me culpa se nada me ofende.

 

Que culpa resvala na minha face.

Alguma ferida? Gilvaz de giz?

 

Nada. O remorso não trinca o meu cálice.

A pureza não é para aprendiz.

 

Trescala a inocência por meus bolsos

e eu nada ouço. E eu nada ouço.

 

Por fim, devo dizer-vos que a obra me deu muito prazer, tanto antes como depois do 69!

Boa leitura

 

Abraços,

 

 

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