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Mike Tyson – A verdade nua e crua – autobiografia

 

Acabei de ler recentemente a biografia de Mike Tyson ditada por ele a Larry Sloman, saída pela Benvirá em 2014 no Brasil.

 

Adquiri no dia 31.08.14, por R$ 49,90 e terminei de ler em 19.09.14, às 22:33h. Leitura feita paralelamente com outras obras.

 

 

Abaixo transcrevo algumas excertos que mais me chamaram a atenção e pelos quais quero ressaltar quanto gostei da leitura. Ela prende e cativa, seja pela sua crueza seja por querermos saber como vive e como age o seu protagonista.

 

Quem viu o Tyson nos ringues não pode imaginar o que se passava na sua retaguarda: um completo desastre e fracasso!

 

Ganhou muito dinheiro (mais de bilhão de dólares) e veio a perder tudo!

 

As suas fragilidades psicológicas foram e são determinantes para transformar esse gigante em anão! Um homem sem qualquer domínio sobre si!

 

As vezes pensamos que as marcas que determinam a personalidade das pessoas decorrem apenas de violências ou sofrimentos físicos! Mas não! Tyson mostra muito bem isso!

 

Ele foi capaz de enfrentar os piores adversários (físicos) dentro e fora dos ringues e bateu em todos, praticamente, mas não foi capaz de enfrentar os seus fantasmas, em especial os familiares.

 

Tyson tinha uma família mais ou menos estruturada, pelo menos ele não demonstra infelicidade advinda antes da data em que sua mãe perdeu o emprego e sua família foi despejada: ficando ele e irmãos sobre os móveis depositados na calçada. Esse é o ponto X da derrocada do campeão antes de sê-lo.

 

Todas as suas vitórias e gloria serão borradas por conta do que viveu na sua triste infância.

Eles jamais esquecerá de sua mãe dormindo (fazendo sexo) com homens na mesma cama em que ele dormia (dor psicológica profunda que se tornará indelével na sua existência), também não se esquecerá de sua mãe jogando água quente em seus amantes e esfaqueando-os. Gesto que ele terá tendência a repetir com mulheres com as quais se envolveu.

 

Se tivesse perdido uma orelha ou outro órgão talvez tivesse superado a dor da perda, mas jamais conseguiu superar a mazelas da vida familiar.

 

Tyson sabia que estava sendo provocado por mulheres ou homens para usar da violência contra eles para que assim pudessem tirar dinheiro dele com indenizações, mas mesmo assim não era capaz de se controlar e sair do beco no qual acabavam por lhe enfiar!

 

Sempre achei, pelas circunstâncias, que aquela história do estupro contra a moça que o visitou às 2 da madrugada em seu quarto era furada e, agora, com a leitura, acredito mais ainda, mas tudo fica na longa lista dos aproveitadores desse homem sem norte, sem controle, da qual fazem parte Don King, seus empresários e sua ex-mulher e muitas e muitas outras pessoas.

 

A leitura da obra já começa envolvente quando Tyson, ao mesmo tempo que pragueja a juíza que o condenou por um estupro que ele afirma não ter cometido, também agradece a ela por ter salvado sua vida!

 

Por que ela o salvou?

 

É uma das perguntas que dá mote à continuidade da leitura.

 

O livro trás revelações incríveis, em especial de como funciona o sistema judiciário americano, tão aplaudido por muitos brasileiros, mas que, se olhado de perto, parece ser mais nojento.

 

Uma grande prova dessa funcionalidade maléfica do sistema temos na descrição que Tyson faz de seu encontro com John Kennedy Jr.

 

Tyson não merece e/ou precisa que se tenha pena dele, é um menino e como todo menino é passível de crescer e melhorar, em especial sendo capaz de cuidar de si mesmo e de sua saúde, para a qual ele parece não ligar a mínima!

 

Mas o campeão tem algo fundamental e encantador: jamais esqueceu os amigos do bairro miserável onde nasceu e, embora de forma equivocada, muitas vezes, gastou com eles fortunas pelo simples desejo de querer ajudá-los a melhorar de vida.

 

Portanto, mesmo que a leitura não lhe disser nada, reacenderá em seu peito o valor da amizade!

 

E a amizade verdadeira, pois feita no sentido inverso: amizade do rico pelo pobre.

 

Tyson que me deixou acordado por várias madrugas para assistir seus golpes arrebatadores, me deixou acordado, novamente, por várias madrugas, para compartilhar e me enternecer com a história da sua vida.

 

Boa leitura,

 

 

Mike Tyson – A verdade nua e crua – autobiografia

Editora Benvirá

 

Acha que sabe a diferença entre um herói e um covarde, Mike? Bem, não há diferença alguma entre um herói e um covarde naquilo que sentem. É o que fazem que os torna diferentes. O herói e o covarde sentem exatamente a mesma coisa, mas é preciso ter a disciplina para fazer o que um herói faz e para evitar fazer o que o covarde faz. (p. 46).

 

Defendi o mais fraco minha vida toda”, disse Cus. “Muitos dos meus problemas vieram de defender os oprimidos. Algumas pessoas que ajudei não mereciam. Muita pouca gente vale a pena salvar.” (p. 49).

 

Não importa o que alguém diga, não importa a desculpa ou explicação, tudo o que uma pessoa faz no final é o que ela pretendia fazer o tempo todo.”

Ou: “Não sou um criador. O que faço é descobrir e revelar. Meu trabalho é pegar a centelha e atiçá-la. Alimentar a chama até se tornar uma labareda trovejante”. (p. 53).

 

Um título por um ano vale mais a pena do que uma vida inteira de obscuridade.” (p. 59).

 

Presta atenção. Eles estão mortos, mas estamos falando deles agora, não estamos? É uma questão de imortalidade. De seu nome ser conhecido até o fim dos tempos”, disse. (p. 70).

 

Quem te ensinou essa merda de southpaw? Talvez fique difícil te conseguir lutas agora”, disse. Ninguém quer lutar com southpaws. Você vai destruir tudo o que eu criei.” Cus odiava southpaws. (p. 94).

 

Então, no dia 6 de setembro, enfrentei Alfonso Ratliff, ex-campeão mundial dos cruzadores. Não achava que ele fosse melhor do que Ribalta, mas certamente não era uma merda; era um adversário difícil. Aparentemente, os apostadores de Vegas não pensavam como eu, porque não estavam apostando na luta em si, e sim se a luta duraria mais ou menos que cinco assaltos. Dá até para achar que fui eu que inventei esse tipo de apostas de boxe. É que antes de mim não existia. Elevei o nível da operação. (p. 107).

 

Não, era um filho da puta negro, falso, de alma branca.

Eu me sentia um macaco trinado. Tudo o que eu fazia era criticado, tudo tinha de ser premeditado. Ia a programas de entrevistas, e eles não queriam que eu usasse joias caras. Steve chegou a pedir que eu tirasse as pulseiras de ouro. Eu não queria viver com restrições assim. Não me tornei o campeão mundial dos pesos – pesados para ser um cara certinho e bonzinho.

Jimmy e Cayton queriam que eu fosse outro Joe Louis, e não um Ali ou um Sonny Liston. Queriam que eu fosse um herói, mas eu queria ser um vilão. Um vilão é sempre lembrado, mesmo quando não é melhor do que o herói. Embora o herói o mate, é ele quem faz do herói um herói. O vilão é imortal. Além disso, eu sabia que a imagem de herói do Joe Louis era fabricada. Na vida real, ele gostava de cheirar cocaína e transar com um monte de garotas. (p. 117).

 

Assim que comecei a ganhar muito dinheiro com o boxe, fiquei conhecido como o “Robin Hood do gueto”. As pessoas que não me conheciam faziam um grande alarde sobre eu voltar para Brownsville e ficar distribuindo meu dinheiro. Mas não era assim. (p. 118).

 

Aquela seria a maior luta da minha carreira, a luta para unificar os três títulos. (p. 130).

 

Assim como Sugar Ray Robinson vingou Henry Armstrong ao derrotar Fritzie Zivic. (p. 133).

 

Sua puta, é melhor você andar entre as gotas de chuva e conseguir minha grana. E sem se molhar. (p. 140).

 

Isso dá uma ideia de quanto os cafetões eram arrogantes. Um cafetão quer poder comparecer ao próprio enterro para saber quem foi lá. Ele não se importa em ter morrido, só quer saber se o mundo inteiro veio. (p. 142).

 

Mas Ruddock nunca mais lutou daquela forma de novo. Ele se tornou um artista do nocaute. Na luta anterior à minha, ele tinha caído no segundo assalto diante de “Quebra-Ossos” Smith e, depois, se levantou para aplicar um nocaute impressionante no sétimo. (p. 187). (vide página 201).

 

Provavelmente ela estava certa. Eu acreditava na teoria de Cus de que a única coisa errada na derrota é quando não se aprende nada com ela. (p. 193).

 

Ganhou o dinheiro, mas perdeu a honra. Você não pode ganhar a honra, só pode perdê-la. (p. 199).

 

a nova sensação na categoria dos pesos-pesados era um pugilista canadense chamado Razor Ruddock. Ele tinha lutado com Michael Dokes em abril de 1990, e as fitas daquele nocaute estavam circulando por todo o mundo do boxe. Acabei vendo a fita quando Alex Wallau, da ABC Sports, me mostrou uma cópia.

Foi um nocaute de tirar o fôlego, com momentos angustiantes e fantásticos. (p. 203).

 

Depois de uma luta contra Seldon, Tupac apareceu no meu vestiário. Fiquei muito feliz em vê-lo. Tupac representava o lugar de onde todos nós negros viemos, e tudo que tentávamos esconder. Tenho amigos judeus que conseguem olhar para um cara judeu e dizer: “Ele é judeu demais”. Era isso que alguns negros pensavam de Tupac. Ele era essa amargura, essa frustração que está em todos nós e que tentamos esconder e não deixar que ninguém saiba que possuímos. Queremos mostrar que está tudo certo, mas não é bem assim. Se você é negro, é sempre uma luta. Não importa quanto você é rico ou quanto poder você tem, eles ainda vão te perseguir. Tupac falava dos negros que estavam cansados de apanhar e que não tinham nada. Ele jogava nossa herança escrava na nossa cara, e a maioria dos negros respeitava sua força ao fazer isso. Ele nos fazia saber por que deveríamos ficar com raiva. (p. 282).

 

A parte maluca disso era que as pessoas estavam reagindo a imagens, e não à realidade. Recebi muito carinho da imprensa do outro lado do Atlântico. Tony Sewell, um escritor inglês, publicou um artigo chamado “Por que Iron Mike estava certo ao arrancar a orelha”. Ele escreveu: “Enquanto o mundo se ergue em indignação moral e exige que Tyson seja banido do boxe por ter se enfurecido, eu sinto o cheiro nítido do bafo da hipocrisia. Tyson é um gladiador que quebrou as regras. Os verdadeiros selvagens são os espectadores que agora querem jogá-los ao leões.” (p. 291).

 

Rothstein foi um empresário, apostador e vigarista que se tornou chefe da máfia judaica em Nova York. Comandou esquemas de corrupção nos esportes profissionais. (p. 297).

 

Ei existem animais disfarçados de seres humanos por aí e você não é sofisticado o bastante para distinguir os dois. (p. 305).

 

Nós conversamos muto sobre a família Kennedy, especialmente o avô, mas John não parecia saber muito sobre ele, a não ser que ele nunca ensinou nada de negócios a nenhum de seus filhos. Ninguém na minha família sabe como realizar um negócio, é por isso que todos eles entraram para a política. Ele queria que nós fôssemos cara mimados. (p. 320).

 

É claro que mexi os pauzinhos para sair da cadeia imediatamente. Já fazia quase quatro meses que eu estava preso. Para mim, já era tempo suficiente. Uma das primas de John, Kathleen Kennnedy Townsend, a filha mais velha de Robert F. Kennedy, era a vice-governadora de Maryland na época.

Me tira daqui”, implorei. “Pergunta para a porra da sua prima”.

Mike, eu realmente não a conheço”, ele disse.

Talvez ele fosse sofisticado o suficiente para não dizer o contrário numa sala de visitação.

Você não a conhece”? Que diabos quer dizer? Vocês todos jogam futebol juntos lá em Hyannis Port.”

Ele sorriu e, em seguida, foi embora. A mídia o cercou quando saiu.

Estou aqui para dar uma força ao meu amigo”, disse John. “Mike é um homem muito diferente daquele que sua imagem pública sugere. É um homem que realmente estava tentando colocar sua vida de volta nos eixos, e tem a oportunidade de fazê-lo no futuro. Espero que, talvez, pelo fato de eu vir aqui e dizer isso para as pessoas, elas comecem a acreditar, até porque a vida dele não foi fácil.”

Em seguida, ele entrou em sua limusine e foi para minha casa tomar um café.

Pouco depois de John-John estar lá, bum! Saí da prisão. (p. 322).

 

Dizem que só os muçulmanos terão lugar no paraíso; se eu for para o paraíso e lá só existirem muçulmanos mesmo, se eu não puder estar com os amigos que conheço e amo, não vou querer ficar lá. Quero ir para um lugar onde eu possa rir e batalhar com todos os meus amigos e entes queridos, não importa de qual religião eles sejam. Não quero ir para o paraíso com um bando de caras que acreditam no mesmo Deus que eu, mas que eu não conheço – quero estar com gente em quem possa confiar, mesmo que nossos deuses sejam diferentes. O mundo é muito maior que nossa religião. Como posso fazer o bem se eu não tiver que ficar ajoelhado no paraíso rezando o tempo todo? Meus joelhos são zoados, minha cabeça é zoada, não verei nenhum dos meus amigos e ainda terei de comer cordeiro e figo o tempo todo? Resumindo: não quero ir para o céu se isso significar que eu vou ficar sozinho. Sério, me mande para o inferno onde estão todos meus amigos, onde estarão as pessoas que eu conhecia e respeitava quando estava vivo.

 

Algumas pessoas dizem que conhecem intimamente Deus. Eu, com certeza não conheço. Para mim, Deus é inconcebível. Fomos criados à sua semelhança? Não dá nem para pensar que estamos à sua altura. Deus é um porcão, um mentiroso, um pervertido? Porque é isso que nós somos. Somos viciados em sexo e drogas, maníacos controladores, manipuladores e narcisistas. Se Deus for isso, estamos fodidos. (p. 470).

 

Conheci Mel Gibson tempos atrás, e ele tinha sido muito gentil comigo. É claro que seus resmungos antissemíticos de beberrão foram deploráveis, mas eu não estava em posição de julgar ninguém. Quando me perguntaram o que eu achava de sua demissão, tudo que pude dizer foi: “Todos temos esse cara – um Mel Gibson – dentro de nós.”

Eu estava no quarto quando ele veio. Sentei-me ao lado de Kiki, pois nem ela nem eu queríamos que eu visse de frente a saída do bebê. (p. 473).

 

Percebi que a honra não pode ser conquistada, só pode ser perdida.

Quando você nunca teve nada, tende a querer acumular mais do que pode. Porém, conforme vai ficando mais velho, você percebe que a vida não foi feita para acumular, mas para perder. Perdemos nosso cabelo, nossos dentes, perdemos as pessoas que amamos. (p. 481).

 

Minha senhora, meu pequeno coração, meu objeto de afeto, minha devoção, meu amor, minha querida, meu doce, minha vida, minha luz, meu maior bem, minha sombra, meu castelo, meu acre, meu gramado, meus vinhedos. Oh, minha vida, sol, as estrelas, os céus, meu passado, meu futuro, minha noiva, minha garota, minha amada amiga, meu ser íntimo, sangue do meu coração, a estrela interior de meus olhos. Oh, minha caríssima, como deveria chamá-la? Minha criança de ouro, minha pérola, minha pedra preciosa, minha coroa, minha rainha, minha imperadora. Você, amada querida da minha vida, minha mais superior, minha mais preciosa, meu batismo, minhas crianças. Você é minhas tragédias, é minha reputação póstuma, meu segundo eu, um lado melhor, você é minha virtude, você é meu mérito, é minha esperança, meu paraíso, minha criança de Deus, você é minha intercessora, você é minha guardiã, meu anjo, minha concubina. Como eu te amo. (p. 500).

 

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