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Poesia: deleite-se ou delete-me (30.01.15).

Maraãvilhosos,

brasil cedo

 

Voltando hoje às atividades “poetais” que divido com quem lê este espaço.

 

Uma certa preguiça de início de ano e contas a pagar que nos dão uma certa tristeza pelo fim de algo, deve ser das férias e festas, embora nem somente “Paris seja uma festa”, mas a vida também, tem horas que a música quer travar e nos deixar sem completar o compasso. Mas... dancemos!

Dia 28 agora de Janeiro de 2015 comprei o livro “O prazer do poema – uma antologia pessoal”, Edições de Janeiro, 2014, no qual Ferreira Gullar organiza e traduz vários poetas de muitos países. A obra é bonita em conteúdo, obviamente, mas, também, materialmente. Capa, papel, fontes, cores, tudo a agradar mais ainda a leitura. Vale a pena adquiri-la pela quantidade de poemas que, por serem escritos em muitas línguas, das quais muitos não temos acesso, ficavam desconhecidos.

Os dois poemas abaixo saúdam a poesia e o poeta e nada melhor que isso para início de conversa, que é, também, o nosso trabalho: Feliz 2015 e boa leitura de:

 

Pleno de vida agora

 

Pleno de vida agora, consistente, visível,

Eu, quarenta anos vividos, no ano oitenta e três dos Estados,

Ao homem que viva daqui a um século, ou dentro de quantos

[séculos for,

 

A ti, que ainda não nasceste, dirijo este canto.

Quando leias isto, eu, que agora sou visível, terei me tornado

invisível,

Enquanto tu serás consistente e visível, e darás realidade a meus

poemas, voltando-te para mim.

Imaginando como seria bom se eu pudesse estar contigo e ser teu

[camarada:

 

Faz de conta que eu estou contigo. (E não o duvides muito,

porque eu estou aí nesse momento.)

 

Autor: Walt Whitman, traduzido por Ferreira Gullar em “O prazer do poema – uma antologia pessoal”, Edições de Janeiro, 2014, p. 23.

 

e,

 

Poesia

 

Porque eu, o que eu amo é a poesia.

Sim, porque o obsceno da coisa é que a língua pequeno-burguesa,

a lambida de língua erótica de madame Obscena Pequeno- Burguesa,

sempre amou a poesia.

 

Digo a poesia poesia, a poesia poética ética, belo soluço sobre

fundo sangrento, o fundo recalcado em poemática, a poemática do

real supersangrento. Porque depois, diz: "poemática", depois virá

o tempo do sangue. Pois que ema, em grego, quer dizer sangue,

e que o po-ema deve querer dizer

depois:

o sangue

o sangue depois.

 

Façamos primeiro poema, com sangue.

Comeremos o tempo do sangue.

E para diante o po-ema em canto. E sem sangue.

Porque o que era feito com sangue, disso fizemos um poema.

E de que vem o canto gregoriano (estupro, que aparenta ser uma

emulsão de sangue),

De que vieram certos mantras tibetanos?

De ter querido evitar o sangue, de ter destilado para sempre o sangue,

e nesse sangue o real verídico para dele fazer o que a gente chama

hoje

poesia.

 

Autor: Antonin Artaud, traduzido por Ferreira Gullar em “O prazer do poema – uma antologia pessoal”, Edições de Janeiro, 2014, p. 35.

 

Abraços,

 

Osório

POEMEMOS:

 

Pode não ser

 

Uma curta sensação de amor não deve ser confundida com falta de amor.

Uma apertada forte na mão pode não ser um beliscão pra chamar a atenção, ou pode

não condizer com um cumprimento leal.

Um rosto maquiado não indica tempo de sobra para emperiquitamentos, assim como

um vestido curto pode não indicar promiscuidade ou, até, calor.

Uma letra feia pode não ser desleixo e comprar uma cesta básica não indica pobreza.

A inconstitucionalidade formal das leis não interessa a 99% dos cidadãos e a parede

mal pintada não demonstra tempo de uso.

O pó não transparece a falta de higiene e o brilho não assina o luxo.

A amêndoa pode não estar doce e a moça sorridente pode não estar à vontade.

Carro zero não indica que a garagem é grande e ter uma bíblia embaixo do braço não

santifica ninguém.

Fazer rir pode não ser para palhaço e fazer chorar pode não ser só para velório.

Abrir as asas não é prerrogativa das borboletas e nem toda a estátua está 100% imóvel.

Rolar não é para a bola; balançar não é para os quadris; cair não é para os cabelos;

subir não é para os preços... não exclusivamente.

Apenas uma coisa é certa: as coisas não são bem assim.

 

Autora: Sabrina Dalbelo (que prepara livro!).

 

e,

 

Pão ou

 

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