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Poesia: deleite-se ou delete-me (15.01.16).

Caroas todoas,

 

Tatiana 2                                                       (https://www.facebook.com/TBBordados/).

 

A seguir algumas páginas (Primeiro capítulo?) de um “Diário da Juventude de Jesus”, que estou escrevendo. Tal diário traz informações preciosas sobre aqueles anos desconhecidos da vida do “filho de Deus”, os quais ele conviveu com parentes seus aprendendo seus milagres na cidade de Manaus.

Eis a verdade:

Diário da juventude de Jesus.

Durante as escavações para a modernização de uma praça no centro da cidade de Manaus, de placa D. Pedro II, foi encontrada uma arca contendo vários cadernos de folhas pautadas preenchido com letras traçadas por lápis (grafite), a princípio não identificada pelos trabalhadores que cavavam a enorme cratera onde seria erguido um novo chafariz com luzes de diversas cores que fariam a alegria das crianças e famílias quando por lá passassem à noite. O mestre de obra, o único alfabetizado dentre aqueles trabalhadores, foi chamado quando a rapaziada viu que no interior do que pensavam ser um tesouro, não havia ouro nem prata, mas apenas papel velho com seu horrível cheiro de bolor. Caso fosse ouro, ele teria ficado fora da jogada, pois dinheiro nunca é demais! Quando o mestre olhou as letras para soletrá-las, percebeu que elas não pertenciam ao alfabeto que tinha estudado há muito tempo. Foi então que decidiu esperar pela chegada ao local do engenheiro, pois aquilo podia ter alguma serventia, pensou, além de substituir, na hora do aperto, o papel jornal que substituía o papel higiênico.

O engenheiro demorou-se mais que o normal naquele dia, pois antes visitou outros canteiros de obras, já que os trabalhos estavam em ritmo acelerado para que fossem terminados antes da estação das chuvas, que estava próxima. Ao ver o achado, o engenheiro arregalou os olhos, pois o baú não era uma caixa comum, era muito diferente das maletas de papelão que os nordestino arrastavam pela cidade quando por lá aportavam. Ele abriu a arca com cuidado, pois antes havia examinado-a e visto que as dobradiças estavam enferrujadas e um movimento brusco poderia danificar o que imaginou ser um precioso achado. Pegou com cuidado um dos cadernos e o abriu.

- Mas o que é isso? Perguntou-se em voz baixa após uma consulta de várias páginas em que não usou saliva para virá-las, já que as mesmas estavam umedecidas pelo calor quente e úmido da cidade.

- Se o senhor não sabe, imagine...

Foi o que tentou falar o mestre de obra antes de ser interrompido por um “psssss” que o engenheiro soltou após por o indicador sobre os lábios ordenando silêncio.

Examinou vários cadernos, mas em nenhum deles conseguiu identificar nada que lhe ajudasse a traduzir o escrito, mas percebeu que os garranchos se assemelhavam à escrita árabe, e também reparou que todos os cadernos tinham na última folha o que identificou como duas letras: “I.N”.

Isso pode ter valor e me ajudar a pagar as prestações do meu carro e a ida da minha mulher à Miami, passando antes pela Disney com nossos dois filhos”, pensou o engenheiro e disse aos peões que o olhavam espantando, já que o Doutor não foi capaz de dizer o que era aquilo:

- Coloquem essa porcaria velha no porta malas do meu carro, vou queimar isso lá no quintal de casa, já que não serve para nada, pois ninguém consegue ler o que está escrito neles.

Foi obedecido prontamente, pois ninguém queria perder o emprego como acontecera com um colega na semana passada que mostrou má vontade em limpar o barro vermelho dos pneus do carro do doutor e foi por ele mandado embora do canteiro.

O engenheiro, com a cabeça na arca, ainda fez de conta que examinava a obra e deu algumas ordens, todas elas voltadas a produzirem um esquecimento daquilo que tinha agora no porta malas de seu carro.

Quando saiu do local foi diretamente para uma fotocopiadora e, após apanhar um dos cadernos na arca, pediu à mocinha que o atendeu que tirasse três xerox das folhas que indicou, uma no início, uma no meio e outra no fim, em especial, esta última, que mostrava bem o “I.N”. A qualidade do grafite estava ruim, disse a moça, razão pela qual perguntou se podia “escurecer” a imagem para aparecer melhor. O cliente disse que sim. Pagou os sessenta centavos com uma nota de um real, deixando os quarenta centavos do troco para a caixinha dos trabalhadores do local, no que foi agradecido por um sorriso largo da competente atendente.

Saiu do local e, como o seu carro estava bem estacionado sobre a calçada, como é costume na cidade, que pouco se importa com seus pedestres, caminhou em direção à rua em que sabia ser a de maior concentração de árabes da cidade, a Lobo D’Almada, com seus armarinhos e lojas de tecidos.

Evitou as grandes lojas, preferindo uma portinha que lhe apareceu logo a frente, pois estava temeroso e não queria chamar a atenção para sua curiosidade. A portinha levava a um grande corredor no final do qual, como uma base de um catalisador, forma-se uma espécie de pracinha onde ficavam expostas as mercadorias. Uma raquete de ping-pong seria a comparação ideal.

Uma plaquinha aperolada indicava o nome do estabelecimento: “Casa Rouxinol”.

- Bom dia, disse o engenheiro ao aproximar-se do homem gordo de bigodes largos que balançava-se numa cadeira.

- Bom dia, brimo, cê bem vinda!

- Obrigado. Queria pedir um favor ao senhor.

- Bois não!

- O que que está escrito aqui? E entregou as três folhas fotocopiadas ao narigudo que não escondia suas origens.

O homem olhou atentamente por alguns momentos e disse:

- Isso non cê árabe. Cê aramaica! E gritou em seguida: - Salim, vem gá!

Apareceu um rapaz baixo, de cabelos com brilhantina, camisa de seda florida e aberta a altura do peito cabeludo, onde balançava-se uma grossa corrente de ouro amarelo.

- Isso não cê aramaica, filho? Disse o pai entregando as folhas ao apressado filho. Este olhou rapidamente e disse:

- É sim, babai! E jogou-as no colo do velho. - Preciso ir, a rádio me espera.

Apanhou um violão que estava nu em um canto da loja e saiu meio que se balançando ao som de uma música imaginária.

O velho entregou as folhas ao visitante e disse-lhe:

- Zalim dá sempre gum pressa. Vai bro Radio Difusora gantar.

De fato, o engenheiro já o tinha ouvido cantar “Fátima”, uma de suas músicas preferidas e seu maior sucesso, na rádio nominada.

- Brocura a Zamuel, no Bemol, que ele te ajuda.

Zamuel era o Samuel Benchimol, de uma das famílias mais tradicionais de Manaus de origem judaica, rico comerciante e professor da Faculdade de Direito do Amazonas.

- Obrigado, seu...?

- Simbah.

- Obrigado seu Simbah, então. Farei isso.

- Num guer levá nada ba batroa?

- Volto aqui com ela. Obrigado, disse e saiu apressadamente. Enquanto caminhava lembrava do sotaque ainda muito carregado de Simbah, que, pelo jeito, já estava a muito tempo no Brasil, tanto assim que tinha um filho com cerca de quarenta anos e que falava sem sotaque o português. É que Simbah, pensou, não deve falar o português quando está com seus patrícios e em casa, daí a dificuldade em perder o sotaque nativo.

Tinham várias lojas Bemol na cidade, mas a matriz ficava na rua dos Andradas, próxima à Faculdade de Direito, sabia o engenheiro, então era possível, com sorte, encontrar Samuel num desses dois lugares. Já era quase hora do almoço, melhor ir na loja matriz, pensou, e como ficava perto para lá se dirigiu em passos largos.

Ao chegar a loja, perguntou a um dos vendedores onde ficava o escritório no qual poderia encontrar o Professor Samuel. O vendedor, apontando com os beiços, como é costume dos amazonenses, indicou uma escada na lateral esquerda da loja. Ele agradeceu e rumou para lá. A secretária com cara de índia tinha uma beleza escultural, seus cabelos longos e negros lembrava um poço a jorrar petróleo, com lábios carnudos e de um vermelho-arroxeado natural, seios volumosos e fixos. Melhor exemplar de nativa e secretária não podia existir.

- Bom dia, disse ao se aproximar.

- Bom dia, pois não! Respondeu. – Em que poço ajudá-lo?

Seu linguajar mostrou ao que chegava que a moça além de bela era estudada, ou seja, não só sua beleza assegurava-lhe ser a secretária que era.

- Gostaria de falar com o Professor Samuel, ele está?

- A quem devo anunciar?

- Meu nome é Beto, sou engenheiro da Prefeitura de Manaus e gostaria que ele me informasse se estes escritos são em aramaico. E se são, o que está escrito nelas.

- Pois, não! Sente-se que eu vou anunciá-lo. Aceita um café?

- Uma água, por favor.

Ela tirou o fone do gancho e pediu uma água. Levantou-se e se dirigiu para uma porta que ficava à sua direita na sala espaçosa. Foi então que Beto pode ver a completude da beleza da secretária de cerca de um metro e oitenta centímetros de altura, corpo escultural, nádegas fartas e pernas proporcionais e bem torneadas, que caminhava sobre um salto quinze com sua saia azul balançando e camisa branca estilo polo.

O visitante fez-se algumas perguntas: “Por que ela não falou com o professor ao telefone, como fez com o serviço de copa?” “Mas como ela é bonita!”, “Mas eu não estou aqui para isso”, repreendeu-se.

A moça demorou por tempo quase infinito para a pressa angustiante do engenheiro. Quanto a porta voltou a abrir-se ela apareceu sorrindo com seus dentes de uma alvura cor de leite, e disse:

- O senhor pode entrar, o Professor irá recebê-lo.

Afastou-se um pouco e ficou com seu longo braço de carne rubra e tenra segurando na maçaneta para dar passagem ao visitante. Quando ele entrou ela fechou a porta e dirigiu-se para sua cadeira.

Ele já encontrou o Professor Samuel de pé e estendendo-lhe a mão de pulso forte. Tinha os olhos de um azul profundo e marcante.

- Pois não, em que posso lhe ser útil? Disse o anfitrião apontando-lhe com a mão quase em concha a cadeira à frente da mesa, enquanto se dirigia para a que ficava atrás.

- Bem, Professor, me disse alguém que o que está escrito nestes documentos é em aramaico e que o senhor domina tal idioma, o que me trouxe a pedir o seu auxílio para que confirme ou não a informação, bem como para que me diga o conteúdo dos mesmos, disse entregando as três folhas de papel sulfite.

O Professor apanhou as folhas que lhe eram estendidas e puxou para perto de si uma lâmpada fluorescente que ficava em uma calha de mesa, nos moldes de um abajur!

Leu da primeira à terceira em silêncio profundo, que somente era quebrado pelo vento que era soprado pelo aparelho de ar-condicionado.

Apagou a luz, após a conclusão da leitura e disse ao visitante:

- É, realmente está escrito em aramaico e, ao que li, parece que se trata do diário de um adolescente, pois tem a indicação de sua idade e a narração de três fatos que ele teria vivido naquele ano que indica. Quanto as letras da última folha, temos, aparentemente, as iniciais do autor “I. N”. O “I” pode ser, também, o “J” atual, de modo que precisaria de mais elementos para que pudesse lhe informar mais alguma coisa sobre o aparente diário. O senhor tem mais escritos do autor? Onde encontrou isso?

- Eu não tenho mais, foi um amigo que me pediu o favor que ora lhe peço. Não sei se ele tem mais escritos, bem como não sei onde encontrou, mas vou perguntar a ele sobre isso e, se o senhor não se importar, volto a vê-lo em breve.

- De maneira nenhuma eu me importaria, estou à disposição. De qualquer modo, mesmo se tratando de cópia, posso afirmar que é cópia de um escrito antigo, razão pela qual, se seu amigo permitir, traga-me o original, se é que ele o possui.

Pondo-se de pé Beto estava impaciente para sair do local, pois viu o estampado interesse de seu interlocutor no material, embora tentasse demonstrar o contrário.

- Não quero mais importuná-lo, Professor, e também tenho trabalho me esperando. Volto a contatá-lo assim que falar com meu amigo.

- Fique à vontade, disse o Professor dirigindo-se para a porta para abri-la e assim, permitir a saída do visitante.

Apertaram-se as mãos e, sem olhar para trás, nem mesmo para a bela secretária, da qual somente voltaria a se lembrar quando chegou no carro e ligou o ar condicionado, o engenheiro desceu a escada quase que correndo, pois queria se afastar dali o mais rápido possível, pois algo dizia-lhe que estava com um tesouro nas mãos, embora ele não soubesse qual o valor, tudo por conta do brilho que percebeu nos olhos azuis do Professor Samuel enquanto examinava os documentos.

Ficou sem ânimo para voltar ao trabalho, principalmente tendo no porta malas de seu carro aquela arca. Decidiu ir guardá-la em casa, antes de ir tomar um banho de rio enquanto pensava no que deveria fazer com aquilo; precisava planejar seus próximos passos.

Depois que retirou a arca e coloco-a no sótão de sua casa, trocou de roupa, vestindo um short de banho, apanhou uma caixa térmica e a colocou no local onde estava a arca em seu carro. Como os filhos estavam na escola e a esposa no trabalho, não teve que explicar sua folga no meio da tarde a ninguém, já que a empregada não ousara perguntar.

Deu a partida no carro enquanto o portão automático da casa abria-se e ele saia rumo ao primeiro posto de gasolina que tivesse loja de conveniência para que pudesse comprar cerveja gelada e gelo para cobri-las dentro da caixa e ir para as margens do rio Negro nas proximidades da praia da Ponta Negra.

Lá chegando, e sendo dia normal de trabalho, não encontrou dificuldade para estacionar. Fez questão de descer do carro deixando o celular desligado no porta-luvas, levando consigo apenas a chave do automóvel e a caixa térmica contendo as vinte e quatro latas de cerveja.

Desceu por um barranco íngreme, evitando a escadaria próxima, pois queria sentir nos pés a calosidade do barro a servir de esfoliante e massageador!

A pequena praia estava deserta!

- Oba, pensou em voz alta.

Arriou a caixa e foi mergulhar, não sem antes deixar a chave do automóvel coberta por uma folha grande que colheu de uma árvore quando descia o barranco.

Foi andando devagar para sentir a água ir subindo em seu corpo, bem como para pisar na areia e essa terminar o serviço que tinha sido iniciado pelo barro no qual se equilibrara.

Após a água cobrir-lhe o último fio de cabelo, em pé debaixo d’água, ele consumiu todo o seu fôlego até a última gota de oxigênio passar pelo cérebro. Quase no último instante de consciência empurrou-se para fora d’água com as pontas dos pés, e encheu os pulmões novamente.

Repetiu esse exercício por várias vezes, até sentir sede e caminhar de volta ao encontro de suas cervejas.

O estouro da tampinha da lata ao ser aberta o despertou de seus pensamentos ainda muito vagos. O gole longo e pausado quase seca o conteúdo da lata, cuja temperatura estava ideal para aquela tarde quentíssima de verão amazonense.

Deu novo gole e jogou e depositou a lata seca junto com as outras ainda cheias, sua consciência ecológica não permitiu que ele a jogasse no rio, como fazem tantos dos seus conterrâneos. Apanhou outra lata e a abriu e foi caminhar na areia escaldante, bem perto da linha d’água, pois quando seus pés não aguentassem mais pisaria na água fria, esperando que o choque térmico lhe clareasse as ideias.

- Por que uma urna contendo escritos em aramaico provocaria interesse explícito de um judeu? Perguntou-se.

Como a praia era pequena, rodopiou no calcanhar direito e retornou no sentido oposto ao que tinha vindo.

- Papai já me ensinou que não devo arranjar encrenca com três pessoas que vestem saia: mulher, padre e judeu! Lembrou-se da lição milenar, pois, diz ela, você nunca terá razão, vez que os três sabem provocar o oponente até ele chegar a uma explosão violenta, mas depois que isso acontece, pousam de vítima, já que se apresentam como frágeis e indefesos e quase todos costumam acreditar neles, em prejuízo do que foi levado pelo instigador à atitude extrema. É o mesmo caso de brigar com bêbado: se você vencer a briga será um covarde, pois bateu em um bêbado, se apanhar será um fraco, uma vez que apanhou de um bêbado! Ou seja, você está com chances de 0,0000000000000000000001 por cento de ter razão para os demais, embora você saiba o que aconteceu.

- Já que o judeu se interessou, os padres, que também conhecem o aramaico, certamente se interessariam. Mas eles são confiáveis? Claro que não! Então não posso pedir ajuda a eles para que me decifrem o conteúdo dos escritos. Tenho que encontrar uma saída. Mas qual? Interrogava-se.

Seus pés já estavam quente o suficiente para irem pisar na água fria. Foi o que fez. A cerveja, que ele esqueceu de beber enquanto ruminava suas ideias, também esquentou pela ação do sol e pelo contato de sua mão ao segurá-la enquanto caminhava ocorreu a estabilidade térmica, pensou, que é o nivelamento, ou a tendência a ele, de dois corpos com temperaturas diversas ao entrarem em contato. Derramou o conteúdo no rio e jogou a lata em direção à caixa termina e foi mergulhar novamente.

Desta entrada no rio deu várias braçadas rumo à margem oposta. Quando começou a cansar resolveu voltar. Caminhou em direção as suas cervejas, antes apanhando a lata suja de areia e indo lavá-la para poder guardá-la na caixa. Apanhou outra cerveja e a bebeu de um gole só. Apanhou outra e a secou também em três goles. A ansiedade costumava aumentar-lhe a sede, contrariamente as outras pessoas que nesse estado têm aumentada a fome.

- Eureka!

Comemorou em voz alta.

- Já sei o que fazer: vou contratar um tradutor profissional em São Paulo onde fiz meu mestrado e tenho apartamento. Tirarei cópia de todo o material e a levarei comigo, marcarei encontro com o tradutor em praça pública ou em um café ou restaurante e pedirei para ele ler o conteúdo, oportunidade em que estarei gravando sua voz e depois degravarei.

Trocou a lata vazia de cerveja por uma cheia.

- Melhor contratar dois tradutores, até para que um único não fique sabendo a totalidade do conteúdo dos escritos. Pago-os e não mais faço contato. Jogo fora até o chip do telefone pré-pago que comprarei. Pagarei em espécie que é para não deixar rasto, pegadas, digitais.

Sorriu para si mesmo de sua ideia! Trocou novamente de lata seca por cheia. Após secar a lata recém aberta foi nadar novamente, mas percebeu que a velocidade com que bebia as cervejas e a sua ansiedade tinham levado o álcool a fazer algum efeito, e sob este sua ideia pareceu mais clara, plausível e factível. Enquanto, já na areia, caminhava rumo à caixa pensou:

- Devo ter achado um tesouro, não com moedas de ouro e joias do mesmo metal e pedras preciosas, mas um tesouro cultural que, se bem administrado, pode me proporcionar outros tesouros. A cultura e a mística são riquezas inesgotáveis, não é à toa que judeus e católicos as exploram tão bem. Todas as editoras e jornais pertencem aos judeus. A grande maioria de autores editados é composta por judeus. Será que somente os judeus sabem escrever? Claro que não, mas a comunidade prestigia-se prestigiando uns aos outros. Quando um judeu lança um livro toda a comunidade compra. A mística, que também é usada pelos judeus, é utilizada pelo seu irmão gêmeo, o cristianismo! Não é sem razão que a Instituição mais antiga da terra é a Igreja Católica, com mais de dois milênios e muita riqueza arrecadada em nome de deus, que nunca veio pessoalmente consolar seu rebanho, ao contrário, costuma colocar um rebanho contra o outro e assistir o banho de sangue que costumam dar um no outro. Porém, melhor não condenar nada disso! Melhor aprender com eles a usar suas armas: cultura e misticismo!

Uma coisa engraçada que tinha observado é que a irmã gêmea da respiração, a inveja humana, é cultivada de maneira diferente pelos judeus. Nas demais pessoas a inveja faz com que os do seu grupo e de outros grupos não prestigiem o artista co-irmão, ao contrário, se puder o enterram vivo, na triste ilusão de ocupar o seu lugar, como se no mundo não tivesse lugar para todos. Os judeus fazem o contrário, não importa quem seja o artista, o importante é que seja judeu. Isso lhes basta para prestigiarem-no. E como têm a imprensa em suas mãos divulgam à saciedade as obras dos patrícios.

O cristianismo, também tem muitas editoras e seus muitos jornais, mas, por ser gigantesco o número de seus membros, o que dificulta a doutrinação e a vigilância, não consegue impor seus produtos culturais em larga escala como fazem os judeus. Já imaginou se dez por cento dos cristãos do mundo comprassem uma obra de um escritor de suas hostes? Ele seria sucesso instantâneo.

Não podemos negar que dentre os judeus saíram, realmente, grandes escritores, mas também escritores medíocres e até outros que nada escreveram, mas, mesmo assim, todos foram prestigiados e gozam de fama mundial, pois são os pops, os ícones do judaísmo, como Karl Marx, Freud, Einstein e Jesus Cristo, por exemplo. Mas quantas outras pessoas, tão boas escritoras que se igualariam a eles, não passaram pelo mundo sem que um felizardo editor/divulgador tenha olhado para seus trabalhos e, assim, ninguém jamais teve sequer notícias deles?

Enquanto pensava nisso foi secando as outras latas somente percebendo isso quanto teve dificuldade de encontrar a última lata cheia no fundo da caixa, pois as outras já estavam todas flutuando no gelo semiderretido.

- É hora de ir embora, mas antes o último mergulho.

Foi para água e novamente deu um mergulho até o limite do seu fôlego. Não nadou mais, pois as cervejas já podiam comprometer-lhe o desempenho. Caminhou de volta, não sem antes pentear o cabelo ao entortar-se para trás e deixar que a água chegasse até a sua testa e endireitar-se levantando-se novamente. No último mergulho os caboclos não usam pente, lembrou-se!

Apanhou a caixa, colocou-a nas costas mas não se arriscou voltar pelo caminho que descera, o álcool não o ajudaria, motivo pelo qual subiu pela escada de concreto.

Arriou a caixa junto a parte traseira do automóvel e acionou a abertura da porta do motorista. Ligou o motor e baixou os vidros, deixando o ar-condicionado ligado para esfriar o forno no qual se transformara o carro, enquanto isso foi guardar a caixa no porta-malas.

Colocou uma toalha sobre a cadeira do motorista para não molhá-la com seu short úmido e partiu em direção à sua casa, onde chegou antes dos filhos e da esposa, com isso escapando das inúmeras perguntas que ela lhe faria se soubesse onde tinha passado a tarde, insinuando que estava em companhia de alguma sirigaita. Pelo menos daquele interrogatório sem fim e com muitas insinuações ele estava livre, por enquanto.”.

Abraços,

Osório

Eça de Queiroz

e,

Poesias 12

 

 

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