obrigado a Adriano Alencar Matos Barbosa pelo "Henfil" da foto!
Saudades de todoas! Desde o ano passado que não falamos sobre poesia! Onde já se viu ficar tanto tempo longe de tal imprescindível assunto?
Comecemos a caminhada por 2017! E que este seja longo, para que possamos aproveitá-lo ao máximo, pois, depois de a última gota, não tem volta o bom vinho.
Um “causo” saudoso de Maraã:
“Meu pai, Juarez Barbosa de Lima, cantando com o seu Bernardo Lira Falcão”.
Papai media quase um metro e oitenta, acredito, e era muito gordo, uma barriga enorme.
Já ‘seu Bernardo’, um coariense contabilista da prefeitura de Maraã, media cerca de um metro e meio e era bem magrinho.
De quando em vez a ‘Voz Educadora de Maraã’, o serviço de altofalantes da cidade, de propriedade da prefeitura, ia para um palanque armado na rua e aí as pessoas iam cantar (fui ‘locutor’ desse serviço durante certo tempo, quando a ‘voz’ estava sob a direção do seu Paulo Pedro Alves, primo do então prefeito e seu secretário).
Papai e Bernardo, costumavam cantar juntos a música ‘Sinfonia da mata’, cuja letra diz:
‘Tenho a viola, que retiro da parede,
Quando é noitinha, para pontear
Tenho a gaiola meu canário e uma rede,
Sempre esticadinha pra meu bem sonhar
Quando a lua vem surgindo cor de prata
E ilumina o meu pedaço de torrão
O meu ranchinho aqui no seio da mata
Não precisa nem que acenda o lampião
Sinfonia do riacho e da cascata,
Minha viola completa a orquestração’.
Além da desafinação, em especial pela contribuição do papai, a dupla chamava bastante a atenção, juntamente, pela desproporção entre os seus integrantes: o grande e o pequeno”!
Hoje, ao fazer alguns microvídeos para a internet, percebo como a “Voz Educadora de Maraã” foi, também, importante em minha vida, justamente por ajudar-me a perder um pouco da inibição.
Quem desejar ouvir a música cuja letra transcrevemos, pode fazê-lo em: https://www.youtube.com/watch?v=ilQfrMPEka8.
Saudade e agradecimento.
Abraços,
Osório
POEMEMOS (com excertos retirados de “Abdias”, de Cyro dos Anjos):
1 – “Mas o certo é que a Gimnopédia causou em mim efeitos devastadores, fosse pela melodia, terrivelmente depressiva, fosse pelo estado de espírito em que me achava, propício a projetar, no indeterminado da música, as vagas de melancolia que se sucediam, no meu mar interior, como na solidão de uma praia desabitada”. (p. 129).
2 – “Pensar que ela jamais seria minha, que eu nunca alcançaria seu corpo gentil, nem beijaria aqueles olhos cerrados, afagando os cabelos que se desmanchavam em doces ondas – trazia-me uma tristeza desesperançada, um desconsolo sem remédio”. (p. 129).
3 – “Servidão de amor, a mais melancólica das servidões. Por que há de o homem escravizar-se a vãs formas que o tempo dissolve? O amor nada tem de essência de Ariel. É Calibã, que rasteja, embriagado”. (p. 129).
4 – “... e à modéstia das exigências estéticas dos velhos, para quem uma aparência saudável por si só já representa beleza”. (p. 130).
5 – “... surgiu a meus olhos com a graça de mulher em plenitude plástica”. (p. 138).
6 – “Naqueles dias, uma ideia vivia a verrumar-me: em todo grande passo, forçamos as fronteiras da razão, tocamos as da loucura. A medida do homem está em Quixote, não em Sancho. O que importa é a nossa realidade interior, não o mundo de espectros que nos rodeia. Que me importa Carlota, o lar, a sociedade e seus códigos? O amor criava um novo mundo”. (p. 141).
Fonte: “Abdias”, de Cyro dos Anjos, Globo, São Paulo, 2011.