TRASÍMACO FRAGMENTOS

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Trasímaco.

 

Trasímaco

 

Pouco se sabe sobre a vida e a obra de Trasímaco.

 

Veio da Calcedônia, na Bitínia, onde morreu, ou, pelo menos, foi sepultado, pois aí se encontra um monumento em sua memória.

 

As posições que defendeu, no âmbito da política e da ética, nomeadamente a ideia de justiça, são-nos dadas a conhecer pelos diálogos platônicos, em particular pelo primeiro livro da República; mas a relevância desses testemunhos depende da credibilidade que se reconheça a essas obras como fontes históricas.

 

Especializou-se na elaboração de argumentações judiciais, que tinham muita procura numa época em que eram constantes os processos nos tribunais, sem que houvesse a profissão de advogado, propriamente dita.

 

O discurso dirigido aos habitantes de Larissa, exortando-os a revoltarem-se contra o domínio de Arquelau da Macedónia, situa-se no período em que este governou (entre 413 e 399 a. C.).

 

Na Suda consta que Trasímaco foi discípulo (há reserva quanto a isso) do filósofo Platão e do orador Isócrates.

 

Escreveu Discursos Deliberativos, Arte Oratória, Exercícios Dialéticos, Recursos Retóricos.

 

Aristóteles enfatiza a ideia de “herança”, transmitida nas diversas gerações de retóricos, da qual ele mesmo beneficiou ao elaborar a sua famosa Retórica. Segundo este filósofo (fr. 137 Rose), Córax e Tísias são os primeiros inventores desta arte, e Tísias, autor de um manual, foi discípulo do primeiro. Trasímaco, que também escreveu um tratado de retórica intitulado Megalh Tecnh, situa-se na continuidade de Tísias e é antecessor de Teodoro de Bizâncio, orador em Atenas, nos finais do século V a. C. Desta forma, a dita arte desenvolveu-se a partir de vários contributos parciais, partilhados, ao longo dos tempos, por uma pluralidade de oradores.

 

Os irmãos de Platão, Gláucon e Adimanto.

 

Crítias, que governou como um dos Trinta.

 

B. FRAGMENTOS

 

Sobre a constituição

 

Zoilo foi denominado “fustigador de Homero” (homeromastix) pelos famosos nove livros que escreveu contra ele: criticou a poesia homérica quer de um ponto de vista diegético quer de um ponto de vista gramatical.

 

Veja-se o este exemplo de discurso político de Trasímaco:

 

“Quereria, ó Atenienses, ter pertencido àquele tempo de outrora em que para os jovens era suficiente estarem calados, pois os assuntos da cidade não os obrigavam a falar em público e os mais velhos governavam bem a cidade. Mas, uma vez que a sorte nos pôs num tempo em que obedecemos [a outros que são senhores] da cidade e nós próprios [sofremos] infortúnios, que não são obra dos deuses nem do acaso, mas dos que se ocupam do governo, é preciso falar. De fato, ou é insensível ou muito paciente aquele que se dispuser a receber injustiças da parte de quem as quiser fazer e, ao mesmo tempo, aceitar carregar sobre si mesmo as culpas da traição e da perfídia de outrem. Basta-nos o tempo passado, e, em vez de paz, termos estado em guerra e, através dos perigos, [termos entrado] neste tempo, satisfeitos com o dia de ontem e receosos do amanhã, e, em vez de concórdia, termos chegado à inimizade e aos conflitos. E, enquanto a abundância de bens torna os demais insolentes e conflituosos, nós, na prosperidade, mostramo-nos sensatos e é na adversidade, que costuma tornar os outros sensatos, que perdemos a cabeça. Porque hesitaria em dizer [o que] tem em mente, aquele a quem [sucedeu] afligir-se pelas circunstâncias presentes e que pensa conhecer um meio para que nada venha a ser assim?

 

Em primeiro lugar, mostrarei o que experimentaram os que divergem entre si, fossem oradores ou outros, numa altura em que se visaram mutuamente, e o que necessariamente experimentam aqueles que querem vencer sem reflexão. Ao pensarem que dizem o contrário dos outros, não se apercebem de que fazem o mesmo e que o argumento dos adversários está contido no seu próprio argumento.

 

Examinai, pois, desde o começo, o que procura cada um deles. Em primeiro lugar, a nossa constituição ancestral perturba-os, apesar de ser muito fácil de compreender e apesar de ser comum a todos os cidadãos. Em relação a tudo quanto está para lá do nosso conhecimento, temos de ouvir as palavras dos mais velhos e temos de aprender com quem viu tudo quanto os mais velhos viram...”

 

Eis o tipo de expressão que Trasímaco usava, intermediário dos dois estilos, equilibrado e um oportuno ponto de partida para estabelecer as características de ambos.

 

Em defesa dos habitantes de Larissa

 

Eurípides no seu Télefo disse “Nós, que somos gregos, seremos escravos de bárbaros?”, Trasímaco diz, no discurso pelos habitantes de Larissa diz: “Vamos ser escravos de Arquelau, um bárbaro, nós, que somos gregos?).

 

Trata-se do domínio de Arquelau da Macedônia sobre a Tessália, entre 413 e 399 a. C. É de notar a antítese estabelecida entre “Gregos” e “bárbaros” e a inclusão dos Macedônios nesta última categoria.

 

Platão, na sua República (338 c), faz Trasímaco dizer: “Digo eu que a justiça não é outra coisa senão a vantagem do mais forte. [Osório diz: pode-se conjeturar que Trasímaco seria o próprio Platão, já que um personagem seu!].

 

De um escrito incerto

 

Hérmias sobre Platão, Fedro, (p. 239, 21) (Couvreur). Numa das suas obras, Trasímaco escreveu algo como isto: “os deuses não dão atenção aos assuntos humanos ou não teriam negligenciado o maior dos bens entre os homens: a justiça”. Vemos, de fato, que os homens não fazem uso desta.

 

As posições de Trasímaco, a este respeito, têm originado comentários díspares. A opinião segundo a qual a justiça se subordina ao interesse do mais forte, ou seja, ao interesse dos detentores do poder não obsta à valorização da mesma como “o maior dos bens entre os homens”. Os pontos de vista sustentadas refletem uma posição realista sobre os valores prevalecentes na época, aliada a uma perspectiva pessimista das coisas.

 

Fonte: todas as informações acima sobre Trasímaco foram retiradas de: SOFISTAS – testemunhos e fragmentos, tradução e notas: Ana Alexandre Alves de Sousa e Maria José Vaz Pinto, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2005, a qual, portanto, deve ser consultada.

 

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